sexta-feira, 15 de junho de 2012

“JAGUARES DE YURUPARI”- UMA TRADIÇÃO DO POVO BARASANA NA RIO+20


Os saberes e conhecimentos tradicionais dos chamados “jaguares deYuruparí”, da etnia Barasana, foram declarados pela UNESCO, em 2011, patrimônio cultural imaterial da humanidade. Conhecidos como os Xamãs da Amazônia, dois representantes Barasana, que vivem na região localizada a sudeste do território colombiano, Reynel Ortega e Roberto Marin, integram a delegação que a articulação indígena colombiana COAMA traz a Rio+20. Ambos integram a Associação de Capitães e Autoridades Tradicionais Indígenas do rio Pirá Paraná, ACAIPI, uma das primeiras AATIs a se constituírem após o reconhecimento, pela Constituição da Colômbia de 1991, do direito dos povos indígenas à autonomia. Reynel Ortega é um “jaguar de Yurupari” enquanto Roberto Marin integra os “maloqueiros”, uma espécie de gerente das habitações indígenas. A hierarquia dos Barasana é composta por seis níveis: guerreiros, artesãos, cultivadores, oradores tradicionais (jaguares), maloqueiros e cantadoras (uma atribuição feminina). A definição sobre a que categoria cada indivíduo do grupo pertence é realizada em rituais seculares que, em seu conjunto, objetivam salvaguardar a vida humana e a ecologia de seus territórios. “Temos uma preparação espiritual e física para assumir nossa responsabilidade sobre a terra”, explica Roberto Marin. O conhecimento tradicional do Xamã “Jaguar do Yuruparí” representa a herança cultural de todos os grupos étnicos que vivem ao longo do Rio Pirá Paraná. Especificamente na zona interior da Reserva Indígena de Vaupés. De acordo com esta sabedoria ancestral, o Pirá Paraná (Hee Oko Ba ou águas do Rio de Yurupari) é o "coração" de um território especial chamado Hee Yaia Godo Bakari - território dos Jaguares de Yuruparí - em que os chamados "jaguares" não são animais, mas sim as pessoas dotadas desta sabedoria. No passado, todos os grupos humanos que viviam neste território possuíam a sabedoria e os instrumentos de Yuruparí, e utilizavam-na em rituais para proteção espiritual do mundo. Sob a ACAIPI se reúnem sete etnias diferentes, distribuídas em 17 comunidades, 39 malocas tradicionais, totalizando 1.600 habitantes. Desde a constituição da entidade, os líderes do povo Barasana destacam entre os avanços obtidos ao longo das últimas duas décadas a estruturação de um sistema de governo local, sob a égide da Associação, o reconhecimento da ACAIPI pelo governo colombiano como personalidade jurídica e qualificação de 36 professores bilíngues, que já prestam serviços à comunidade. A parceria com o governo colombiano e com a Fundação Gaia Amazonas, cujos projetos são financiados há 20 anos pela União Européia, em um dos mais longevos apoios da UE a populações indígenas da Amazônia colombiana, tem proporcionado avanços importantes a essas comunidades. Sobre as expectativas do grupo para a Rio+20, destacam a importância do comprometimento de governos de todo o mundo no cumprimento dos acordos já firmados. “Temos a oportunidade de continuar cooperando para salvaguardar o planeta terra. E essa é uma tarefa comum a todos os seres que vivem em nosso planeta”, destaca Reynel Ortega, ou Yaihoa seu nome original. No próximo dia 16, no pavilhão da União Européia, Parque dos Atletas, Rio de Janeiro, a partir das 17h, a COAMA apresenta o painel "Guardiães da Floresta - 20 anos de cooperação da União Européia na amazônica colombiana". Na ocasião será realizado o lançamento da publicação "Guardiães da Floresta - governabilidade e autonomia na amazônia colombiana" com relato dos avanços e desafios enfrentados pelos povos indígenas da Amazônia colombiana ao longo das últimas duas décadas. – Jair Barbosa

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