“Guardiães da Floresta. Governabilidade e
autonomia na Amazônia colombiana” é uma publicação que resgata um processo de
vinte anos dos povos indígenas da Amazônia colombiana, os quais se empenharam
em atingir a meta de preservar 20 milhões de hectares de floresta,
caracterizadas por uma altíssima biodiversidade, a partir da consolidação de
suas reservas. O prestígio mundial que estes territórios adquiriram se deve, em
grande parte, ao fato destes povos terem enfrentado os novos desafios de
adaptação às mudanças climáticas e a busca por alternativas para o seu
desenvolvimento sustentável. A publicação, de autoria dos antropólogos Martin
von Hildebrand e Vincent Backelaire será apresentado ao público no dia 16 de
junho, no Parque dos Atletas, pavilhão da União Européia, Rio de Janeiro, às
18h30, como uma das iniciativas prévias da Conferência Rio+20, em um evento
paralelo. O programa de Consolidação Amazônica (Coama) implementado há mais de
duas décadas na Colômbia com os povos indígenas amazônicos, constitui uma
referência neste tipo de processo porque reúne os elementos de uma grande
aventura humana: a luta política em prol da cultura indígena e seus
territórios, a aquisição de direitos territoriais, a busca por modelos de
desenvolvimento sustentáveis, a ênfase na revitalização cultural, a luta contra
a desintegração interna e as agressões externas, e a negociação permanente com
o governo, a construção de múltiplas alianças e a consolidação de relações de
cooperação internacional. Este processo, uma referência para a cooperação
transfronteiriça com o objetivo de trabalhar com organizações do Brasil e
Venezuela, revela que além das fronteiras existem os mesmos desafios na busca
de uma coerência para o desenvolvimento regional amazônico. Fruto da observação
da dinâmica política, social e ambiental da região, a Colômbia ganha uma outra
face: o esforço dos indígenas amazônicos para consolidar suas terras, o que
contribui para que o país possa expor sua face da bacia amazônica em melhores
condições de conservação, com leis e políticas avançadas nas quais sejam
integrados os direitos indígenas, a preservação ambiental e o desenvolvimento
sustentável a partir de uma articulação entre os indígenas, a sociedade e o
Estado. A proposta da Coama tem merecido reconhecimento nacional e
internacional, como os seguintes prêmios: o Right Livelihood Award, também
conhecido como o Prêmio Nobel Alternativo e outorgado pelo Parlamento sueco no
fim de 1999; o Golden Ark, do Reino Unido dos Países Baixos; o Skoll, dos
Estados Unidos e o Prêmio Nacional de Ecologia da Colômbia. A cooperação de
alguns dos doadores como a Comissão Européia, Áustria, Dinamarca, Holanda e
Suécia, além de apoiar ações pontuais ou específicas, tem sustentado um sólido
processo para que as reservas indígenas pudessem tornar-se estratégias
sustentáveis de preservação. Hoje, 54% da Amazônia colombiana é gerida por
indígenas como entes públicos e com recursos da nação a partir da implementação
de seus planos de vida. O objetivo desta publicação consiste em explicar como,
em um dos momentos mais cruciais e dramáticos desta região, se consolidaram a
articulação dos indígenas com aliados brancos, a cooperação internacional e as
diferentes instâncias governamentais. Nas páginas da publicação, apesar das
enormes e complexas dificuldades superadas para a construção de governabilidade
e autonomia desses povos, revela um processo que tem sido qualificado de
“exemplar” e, dessa forma, se converteram em verdadeiros sócios do planeta. Revelam
a travessia de vinte anos, durante o qual foram “condensados” documentos de
trabalho, foram realizadas entrevistas, se recorreu à memória das lideranças
indígenas e de suas organizações, foram resgatadas impresões, análises e
contribuições, bem como foram levados em conta todos os elementos que
conformaram o leque de experiências que configuram o universo do Programa
Coama. Estas duas décadas de esforços inéditos, alimentam-se dos resultados
obtidos pelos indígenas para a governabilidade dessa gigantesca extensão de
floresta amazônica colombiana. Por mais paradoxal que pareça, estes povos
avançam em direção a sua autonomia e sustentabilidade, em 2012 quando os países
que apoiaram estes processos se encontram em meio a uma crise aguda de
sustentabilidade universal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário