O
canavial é cultivado há 15 anos em sistema de plantio direto e apresenta maior
produtividade, redução de custos de produção e aumento de sequestro de carbono.
Pesquisas científicas costumam levar anos. Por isso, a necessidade dos
pesquisadores se anteverem aos problemas. Exemplo claro é um estudo inédito
desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da
Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que será
apresentado durante o VII Workshop Agroenergia: Matérias-primas, que acontece
em 5 e 6 de junho de 2013, em Ribeirão Preto. Os participantes do evento
poderão conhecer um experimento de cana-de-açúcar com 15 anos. A cana, plantada
de forma permanente, foi cultivada em sistema de plantio direto na palha. Com o
sistema de cultivo é possível aumentar em até 10 toneladas a produtividade da
cana, aumentar o sequestro de carbono e reduzir em até 40% os custos de
produção. O sistema é ideal para a colheita mecanizada. Em 2014 será proibida a
queimada da cana-de-açúcar em São Paulo. “Enquanto diversas instituições
começaram agora a se despertar para o tema, estamos com 15 anos de resultados”,
afirma o pesquisador da APTA, Denizart Bolonhezi. Os resultados da pesquisa da
APTA apontam que a adoção do sistema aumenta a produtividade dos canaviais em
até 10 toneladas por hectare. “Com a maior produtividade é possível postergar a
reforma do canavial por mais um corte. Isso depende, porém, do tipo de solo, da
ocorrência de chuva na colheita e das doenças nas variedades de cultivo”,
explica o pesquisador da APTA, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do
Estado de São Paulo. O sistema envolve
ainda calagem e produção de cana crua em rotação com a cultura da soja. Outra
vantagem para o produtor é a diminuição nos custos de produção. Segundo
Bolonhezi, os custos de implantação dos canaviais colhidos sem queima é maior
porque há mais operações de preparo para incorporar a palhada da superfície. No
plantio direto é possível reduzir em até 72% a quantidade de diesel, refletindo
assim na planilha de custos. “Se utilizar soja na reforma do sistema é possível
amortizar cerca de 40% do custo de implantação. Na prática, a redução de custo
fica entre 28% e 40%, dependendo da situação da usina ou do produtor”, afirma o
pesquisador da APTA. A cana-de-açúcar produzida dessa forma é considerada
sustentável. Isso porque a cana é colhida crua. A partir de 2014 será proibida
a colocação de fogo nos canaviais paulistas e cultivar dessa maneira é uma
alternativa aos produtores rurais. Outro fator que a faz mais sustentável é a
taxa de sequestro de carbono – no sistema tradicional de cultivo, o acúmulo de
carbono é de 0,67 e no plantio direto, 1,6 toneladas por hectare no ano.
Bolonhezi salienta que em ambos a quantidade de palha de cana depositada na
superfície é a mesma, em torno de 15 t/ha de matéria seca. “O motivo desse
resultado pode ser explicado pelo fato de não se preparar o solo no plantio
direto, preservando a biomassa acumulada de raízes no período de reforma”,
explica. Outras vantagens envolvem aspectos de erosão. Segundo o pesquisador da
APTA, no plantio direto de cana as perdas de solo com erosão são cerca de 10
vezes menor do que no convencional. Além disso, há aumento na infiltração de
água no solo, reduzindo também a quantidade de herbicidas. “Vale lembrar que
com menos erosão há redução no assoreamento dos leitos dos rios, refletindo em
redução das enchentes nas cidades. A maior infiltração de água contribui para
reabastecer os aquíferos, diminuindo as chances de racionamento no futuro”,
afirma Bolonhezi. O sistema de agricultura conservacionista da APTA prevê a
rotação da cultura da cana com a soja, mas também é possível substituí-la pelo
amendoim. Para a produção de soja, o produtor pode ter o custo reduzido em até
32%. “A diminuição dos custos é decorrente da redução no número de aplicação de
herbicidas. No caso da soja transgênica RR, é possível ganhar tempo, semeando
logo após a colheita da cana e deixando para aplicar a glifosate após a semeadura”,
explica o pesquisador. De acordo com Bolonhezi, a rotação de cultura favorece a
diversificação da economia regional. “Nas regiões em que se cultiva soja ou
amendoim na reforma, nos anos de preços baixos da cana, são essas culturas que
mantêm a rentabilidade do médio e do pequeno agricultor. Assim como nos anos de
preços baixos de grãos, a adoção do plantio direto na reforma permite aos
agricultores aumentarem a renda líquida e os mantêm na atividade”, afirma
Bolonhezi. O experimento da APTA foi instalado em 1998, em Ribeirão Preto, e a
variedade de cana em cultivo atualmente é a IACSP955000. O diferencial da
pesquisa é conseguir conciliar todas as operações mecanizadas, como plantio,
colheita e tratos culturais, com os cuidados e rigor que demanda a pesquisa.
“Estudos sobre plantio direto são como vinho, quanto mais antigos melhores são
os resultados, pois as alterações nas propriedades químicas e físicas do solo
são lentas. Somos a única pesquisa do Brasil com histórico de 15 anos”, explica
Bolonhezi. Para o pesquisador da APTA, a adoção do sistema de plantio direto em
cana é ainda baixa em decorrência da falta de informação dos princípios do
plantio direto, da necessidade de utilizar o sistema convencional no controle
de pragas do solo, incorporação de corretivos em profundidade, redução na
compactação oriunda do tráfico de colhedora, além da falta de convencimento dos
consultores do setor canavieiro. A pesquisa da APTA já rendeu o prêmio
internacional Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference (BBETS), em
2011. Os trabalhos são feitos em parceria com a Fundação Agrisus e a ROTACANA –
Tecnologias Sustentáveis para Reforma de Canaviais. Multiplicação rápida de
mudas de cana - Durante o “VII Workshop Agroenergia: Matérias-primas”, o
pesquisador do IAC-APTA, Marcos Guimarães de Andrade Landell, vai proferir a
palestra “Melhoramento de cana-de-açúcar x métodos de plantio”, no dia 5 de
junho, às 11h. Landell vai falar sobre os benefícios do melhoramento genético
da cana-de-açúcar e a adoção rápida dos novos materiais por meio da tecnologia
inédita desenvolvida pelo IAC, o Sistema de Mudas Pré-brotadas (MPB), que muda
o método de se plantar cana-de-açúcar. De acordo com Landell, as tecnologias
geradas pelo programa de melhoramento genético do IAC representam ganhos de
produtividade agroindustrial de 1,2% ao ano. O problema é que as novas
variedades demoram a ser multiplicadas e adotadas pelos produtores rurais. “Com
o Sistema MPB aceleramos em 20 vezes a multiplicação de variedades sadias”,
afirma Landell. No sistema de multiplicação tradicional, em cada um hectare de
cana-de-açúcar são gerados materiais para plantio de quatro hectares. No MPB, um hectare gera
mudas para plantio de 80 hectares de cana. “No método tradicional são
necessários três anos para se gerar materiais para plantar uma área que no MPB
se faz em um ano só”, explica o pesquisador do IAC, da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Outro problema apontado por
Landell na adoção de novos materiais pelos produtores é a falta de informação.
“Os produtores ainda desconhecem os potenciais das novas variedades e que isso
representa ganhos importantes de produtividade, outro ponto é que alguns são
conservadores e ficam inseguros quanto ao manejo desses novos materiais”,
afirma o pesquisador. Durante a palestra, Landell também vai falar sobre essa
questão do manejo, para elucidar algumas dúvidas dos produtores. Além dos
trabalhos de melhoramento genético da cana, o IAC trabalha na produção de
pacotes tecnológicos para adoção dos novos materiais. “Geramos uma ‘bula
varietal’, que se parece com uma bula de remédio, para o produtor saber a
melhor variedade para se plantar em cada tipo de solo e de clima, por exemplo”,
explica. Nos últimos anos, o IAC desenvolveu 19 variedades de cana-de-açúcar
para o setor sucroalcooleiro, acompanhadas de pacotes tecnológicos que têm
viabilizado a canavicultura em 11 Estados brasileiros e também no exterior. A
competitividade paulista tem sido transferida para outros países, que buscam no
Instituto parcerias para o desenvolvimento do setor. É o caso do México, que ao
adotar variedades e tecnologias IAC já alcançou o dobro da produtividade em
seus canaviais, comparando com resultados obtidos com as variedades até então
plantadas no País. Países da América Central e Angola também já mantêm contato
com o Instituto com interesse na recepção de tecnologias paulistas. Evento - O
VII Workshop Agroenergia: Matérias-primas é promovido pela Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios (APTA), por meio do Polo Regional Centro-Leste e do
Instituto Agronômico (IAC), de Campinas. O evento acontecerá em 5 e 6 de junho
de 2013, em Ribeirão Preto, e irá contar com palestrantes nacionais e
internacionais, debatedores de usinas e empresas, entre outros. O objetivo é
fomentar o debate em torno da produção de etanol e seus subprodutos, como
biodiesel, bioetanol, cana-de-açúcar e culturas agroenergéticas em geral,
focando a preservação do solo, a
fitossanidade, mecanização e a fitotecnia em matérias-primas para agroenergia.
“Também serão apresentadas oportunidades decorrentes de novas tecnologias
geradas para a matriz energética brasileira e mundial, correlacionadas à
consciência ambiental e às necessidades econômicas”, explica o pesquisador da
APTA, José Roberto Scarpellini. Serão quatro módulos, com intuito de favorecer
os debates entre os participantes. O
primeiro módulo abordará aspectos socioeconômicos da agroenergia e envolverá
palestras sobre mercado e políticas relativas ao tema. No segundo módulo, o
tema abordado será o plantio direto e a agricultura conservacionista no Brasil
e no mundo, e terá como finalidade a discussão sobre os indicadores de
sustentabilidade da produção de matérias-primas para agroenergia. O balanço da
safra e as perspectivas da cultura do sorgo sacarino e biomassa serão
discutidos no terceiro módulo, seguido por um painel abordando a questão do
biodiesel no Brasil. O último módulo contará com um debate sobre os aspectos
fitossanitários, com a participação de especialistas do assunto. Nesse painel,
além das palestras referentes às novas pragas e doenças, serão abordados
aspectos relativos ao registro de novos produtos para as culturas
agroenergéticas. O “VII Workshop Agroenergia: Matérias-primas” terá ainda
sessões de apresentação de trabalhos científicos, favorecendo o intercâmbio de
informações técnicas e servindo como fórum científico para assuntos pouco
explorados nos congressos e eventos científicos tradicionais. Os engenheiros
agrônomos, gerentes técnicos, produtores rurais, pesquisadores e estudantes
poderão participar de mesas-redondas, palestras e painéis, além de visitar
estandes, campo de pesquisa ou demonstração e espaços de patrocinadores. - Ascom
Serviço
VII Workshop Agroenergia: Matérias-Primas
Data: 5 e 6 de junho de 2013
Local: Centro de Cana do IAC
Endereço: Rodovia Prefeito Antonio Duarte Nogueira,
Km 321, Ribeirão Preto, SP
Informações: 16 - 3637-1091/1849
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