No mesmo dia em que
entra em vigor a Lei de Acesso à Informação, a presidenta Dilma Rousseff
instalou a Comissão Nacional da Verdade. A solenidade foi na manhã desta
quarta-feira (16/5), no Palácio do Planalto, com a presença dos ex-presidentes
da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
Fernando Collor (PTB) e José Sarney (PMDB). Foram empossados os sete
integrantes da Comissão: ministro Gilson Dipp (Superior Tribunal de Justiça e
TSE); o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias; a advogada criminalista, Rosa
Maria Cardoso da Cunha; o ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles; a
psicanalista Maria Rita Kehl; o advogado e escritor José Paulo Cavalcanti Filho
e o atual presidente da Comissão Internacional Independente de Investigação da
ONU para a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro. O ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, participou da cerimônia que também oficializou o início dos trabalhos
da nova comissão. Escolhido para falar em nome dos integrantes da Comissão da Verdade, o ex-ministro José Carlos Dias destacou o
empenho do governo brasileiro para criar a Comissão da Verdade e mencionou os
esforços já empreendidos, como o trabalho da Comissão de Anistia. Ele afirmou
que os trabalhos da nova comissão servirão para resgatar a memória coletiva em
busca da democracia, “sem revanchismo e apedrejamento”. “Não seremos os donos
da verdade, mas seus perseguidores obstinados”, salientou o representante da
Comissão da Verdade. Em seu discurso, a presidenta Dilma Rousseff ressaltou a
importância de o Brasil conhecer sua história e se emocionou. “A verdade não morre por ter sido escondida.
A verdade, a memória e a história merecem serem conhecidas. Verdade é a
capacidade humana de mostrar o que aconteceu. A vontade de saber o que
aconteceu é algo que nos move. Essa é uma iniciativa do Estado brasileiro e não
uma ação de governo”, destacou. “Ao instalar a Comissão da Verdade não nos move
o revanchismo, o ódio ou o desejo de reescrever a história de uma forma
diferente do que aconteceu, mas nos move a necessidade imperiosa de conhecê-la
em sua plenitude, sem ocultamentos, sem camuflagens, sem vetos e sem
proibições”, acrescentou. Dilma Rousseff também enfatizou a presença na
cerimônia de quatro ex-presidentes da República. “Me honra estar acompanhada
dos presidentes que me precederam nesses 28 anos de regime democrático. A
comissão foi idealizada e enviada ao Congresso pelo presidente Lula. Em 1995,
no governo de Fernando Henrique Cardoso, o Estado reconheceu, pela primeira
vez, a responsabilidade pelos mortos e feridos sob a tutela do estado. No
governo Collor foram abertos os arquivos do Departamento de Ordem Política e
Social (DOPS) de São Paulo e do Rio de Janeiro. O Brasil deve render homenagem
a quem lutou pela verdade histórica. Nosso encontro hoje é um privilégio propiciado
pelo momento democrático.” Sobre a composição da Comissão da Verdade, a
presidenta afirmou que escolheu um grupo plural de reconhecida sabedoria e
competência e preocupados com a justiça e equilíbrio. “São mulheres e homens
com biografia de luta pela democracia e com objetivo de conciliação nacional”,
afirmou. A comissão irá apurar violações aos direitos humanos entre 1946 e
1988, que inclui período do governo do presidente Eurico Gaspar Dutra até a
promulgação da atual Constituição Federal. O grupo investigará casos de
torturas, mortes e desaparecimentos na ditadura. O prazo de atuação da Comissão
da Verdade é de dois anos. A comissão não terá a função de punir e deverá observar
a Lei da Anistia (1979). Também poderá atuar de forma articulada e integrada
com os demais órgãos públicos, especialmente com o Arquivo Nacional, a Comissão
de Anistia – criada pela Lei nº 10.559, de 13 de novembro de 2002 – e a
Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos – criada pela Lei no 9.140,
de 4 de dezembro de 1995. Histórico – Os nomes dos sete integrantes da Comissão
da Verdade foram anunciados na última quinta-feira (10/5), quando a presidenta
Dilma Rousseff também os reuniu no Palácio da Alvorada. A lei que instituiu a
comissão foi sancionada no dia 18 de novembro passado junto com a Lei de Acesso
à Informação, que entrou em vigor nesta quarta-feira. Na ocasião, o ministro
José Eduardo Cardozo ressaltou o significado jurídico, político e histórico das
duas novas leis. “Com a verdade, nós sabemos onde e como erramos, onde e quando
acertamos. Com a verdade, nós sabemos o que deve ser feito para que os maus exemplos
não se repitam”, afirmou. O projeto de lei para criar a Comissão da Verdade foi
enviado ao Congresso Nacional pelo poder Executivo em maio de 2010, depois de
intensa pesquisa e trabalho para a sua elaboração. Em setembro de 2011, o
projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados, e, em 26 de outubro, no Senado
Federal. Lei de Acesso – Durante o evento de posse da Comissão da Verdade,
nesta quarta-feira, a presidenta falou ainda sobre a Lei de Acesso à
Informação, que começa a vigorar a partir de hoje. Esse lei, afirmou, representa
um grande aprimoramento institucional para o país. “Dados sobre violações de Direitos Humanos
nunca mais serão secretos. O Estado brasileiro se abre mais amplamente. A
transparência obrigatória será inibidora de desvios de verbas, será veículo de
fiscalização e será eficiente contra violações de direitos”, declarou a presidenta.
“O Brasil não pode se furtar a conhecer a totalidade de sua história. O Brasil
procura a verdade. A força e a tirania podem impedir a verdade, o medo pode
adiar a verdade, mas o tempo traz a verdade à luz”, disse Dilma Rousseff,
visivelmente emocionada.
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