A
demanda cada vez maior por recursos por uma população crescente está causando
uma enorme pressão sobre a biodiversidade do planeta e ameaça nosso futuro em
termos de segurança, saúde e bem-estar. É o que revela a edição de 2012 do
Relatório Planeta Vivo da Rede WWF,
principal pesquisa bianual sobre a saúde do planeta. Produzido em colaboração com a Sociedade
Zoológica de Londres e a Global Footprint Network (Rede da Pegada Mundial), o
relatório deste ano foi lançado nesta terça-feira (15 de maio) na Estação
Espacial Internacional pelo astronauta holandês André Kuipers, que apresentou
uma perspectiva única da situação do planeta em sua missão na Agência Espacial
Europeia. “Temos apenas um planeta. Daqui de cima, posso ver a pegada da
humanidade, inclusive os incêndios florestais, a poluição do ar e a erosão –
são desafios que se refletem nesta edição do Relatório do Planeta Vivo”,
afirmou Kuipers, ao apresentar o relatório durante sua segunda missão
espacial. “Embora o planeta sofra
pressões insustentáveis, nós temos a capacidade de salvar o nosso lar, não
apenas em nosso próprio benefício mas, sobretudo, para as próximas gerações”,
completou Kuipers. A versão completa do relatório está disponível apenas em
inglês, mas o WWF-Brasil lançounesta terça-feira, em Brasília, a versão
reduzida do estudo, o Sumário Relatório
Planeta Vivo, a Caminho da Rio+20. A publicação traz os principais resultados
do relatório e uma análise da situação ambiental do planeta nestes últimos 20 anos, desde a Rio 92 até a Rio+20. O Relatório do Planeta
Vivo utiliza o Índice Planeta Vivo, mundial, para medir as mudanças na saúde
dos ecossistemas do planeta, por meio do rastreamento de 9 mil populações de
mais de 2.600 espécies. Esse índice
global mostra uma diminuição de quase 30%, desde 1970, que é mais acentuada nos
trópicos – onde foi constatado um declínio de 60% em menos de 40 anos. Assim como a biodiversidade se encontra numa
tendência descendente, a Pegada Ecológica do Planeta Terra – que é outro
indicador chave utilizado nesse relatório - ilustra como a nossa demanda por
recursos naturais se tornou insustentável. “Vivemos como se tivéssemos um
planeta extra à nossa disposição. Utilizamos 50% mais recursos do que o planeta
Terra pode produzir de forma sustentável. A menos que a gente altere esse rumo,
esse número vai aumentar rapidamente -
até 2030, até mesmo dois planetas não serão suficientes”, afirma Jim
Leape, Diretor Geral da Rede WWF. O
relatório destaca o impacto do crescimento da população humana e o consumo
excessivo como sendo as forças que causam maior pressão sobre o meio ambiente.
“Esse relatório é como um check-up do planeta e os resultados indicam que ele
está muito doente”, explicou Jonathan Baillie, Diretor do Programa de
Conservação da Sociedade Zoológica de Londres.
“Se ignorarmos este diagnóstico, isso terá implicações importantes para
a humanidade. Nós podemos restaurar a saúde do planeta, mas somente iremos
conseguir isso se abordarmos as raízes das causas, que são o crescimento populacional
e o consumo excessivo.” O relatório também destaca o impacto da urbanização
como uma dinâmica crescente. Até 2050, duas em cada três pessoas viverão em uma
cidade; e a humanidade precisará desenvolver formas novas e aperfeiçoadas de
gestão e manejo dos recursos naturais. A diferença entre os países ricos e
pobres também foi destacada neste relatório.
Países com renda elevada têm uma Pegada Ecológica que é, em média, cinco
vezes a dos países de baixa renda. Os 10 países com a maior Pegada Ecológica
por pessoa são: Catar, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Dinamarca, Estados
Unidos da América, Bélgica, Austrália, Canadá, Holanda e Irlanda. No entanto,
de acordo com o Índice Planeta Vivo, o declínio da biodiversidade desde 1970
tem sido mais rápido nos países de baixa renda – o que demonstra como as nações
mais pobres e mais vulneráveis subsidiam o estilo de vida dos países mais
ricos. A decrescente capacidade
biológica (que é a capacidade de uma região de regenerar recursos) exigirá que
um país importe recursos essenciais de ecossistemas estrangeiros – o que,
potencialmente e em longo prazo, será em detrimento desses países. “A dependência
crescente de recursos externos coloca os países em significativo risco. A crise
ecológica torna-se uma causa de nossas crescentes dores econômicas”, afirma
Mathis Wackernagel, presidente da Global Footprint Network. “Usar cada vez mais
de uma natureza que é cada vez menor é uma estratégia perigosa. No entanto, a
maior parte dos países continua nesse caminho. Com isso, eles colocam em risco
não apenas o planeta mas - o que é ainda mais importante -, colocam a
si próprios em risco.” O Relatório Planeta Vivo apresenta diversas soluções
necessárias para reverter o declínio apresentado pelo Índice Planeta Vivo e
para diminuir a Pegada Ecológica para um limite compatível com o planeta. Essas
soluções são colocadas como 16 ações prioritárias e incluem uma melhoria nos
padrões de consumo, com a atribuição de valor econômico ao capital natural, e a
criação de marcos legais e políticos
para uma gestão equitativa de alimentos, água e energia. O lançamento do
relatório acontece cinco semanas antes que as nações, empresas e sociedade
civil se reúnam no Rio de Janeiro para a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável –
Rio+20. Passados 20 anos desde a última
cúpula mundial sobre o planeta, essa reunião agora constitui uma oportunidade chave
para que as lideranças mundiais reconfirmem seus compromissos com a criação de
um futuro sustentável. “O Brasil, que abriga uma de uma das maiores
biodiversidades do mundo, tem um papel fundamental nesse processo de mudança,
que deve ocorrer não apenas no discurso mas,
principalmente, com ações
práticas”, afirma Maria Cecília Wey de
Brito, Secretária-Geral do WWF-Brasil. E
para ela, esse compromisso deve ser de todos:
dos governos, dos cidadãos e das organizações da sociedade. “Os governos
devem assumir o compromisso com a conservação ambiental e adotar ações que
garantam a proteção dos ecossistemas, como, por exemplo, o incentivo à criação
e à implementação de áreas protegidas, o combate ao desmatamento, o incentivo
ao consumo responsável e o estímulo a boas práticas produtivas”, ressalta. De acordo com Maria Cecília, no que se
refere às cidades, é fundamental que elas usem mecanismos de avaliação de
impactos, como a Pegada Ecológica e adotem políticas públicas de mitigação que
ajudem a reduzir os impactos. Ela também destaca o papel do cidadão nesse
processo. “Os cidadãos precisam repensar
o seu consumo, avaliar até que ponto seus hábitos cotidianos estão impactando o
meio ambiente e fazer escolhas mais sustentáveis”.
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