Ciclistas participam do evento Massa Crítica em Belo
Horizonte. Mobilidade urbana sustentável compreende também a utilização de
bicicletas. - Foto: Rossana Magri
Ciclistas se reúnem com frequência semanal,
quinzenal ou mensal em Belo Horizonte para andar pela cidade e divulgar a
prática - Foto: Rossana Magri
Caminhadas também são alternativas saudáveis ao
transporte convencional - Foto: Willian Dias
Na Capital, grupos usam o modal e acreditam que ele
pode contribuir para a solução dos problemas da mobilidade urbana.
Odion
Vanni de Queiroz usa a bicicleta como meio de transporte para se deslocar para
o trabalho diariamente. Marcos Barroso Resende vai para o trabalho todos os
dias fazendo caminhadas. Essas duas opções de deslocamento surgem como
alternativas ao transporte motorizado neste momento em que a mobilidade urbana
é o grande desafio das cidades contemporâneas. São formas ambientalmente
corretas, saudáveis e baratas. O Fórum Técnico Mobilidade Urbana – Construindo
Cidades Inteligentes, em formatação pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais
(ALMG), a ser realizado a partir deste semestre, trata também dessa questão que
integra a chamada mobilidade urbana sustentável. Queiroz mora no bairro Sion e
trabalha do Santo Agostinho, em Belo Horizonte. Há dois anos, ele optou por
usar a bicicleta. “É um momento em que aproveito para fazer uma atividade
física. Outras formas de deslocamento podem gerar estresse. Sinto que, ao andar
de bicicleta, chego mais disposto ao trabalho. Além disso, minha decisão também
foi motivada pela dificuldade de encontrar vagas para estacionar o carro”,
relata. Resende trabalha na Gerência de Análise Legislativa da Cemig, na
Capital. Mora no bairro Gutierrez e trabalha no Santo Agostinho. Há oito anos,
ele percorre o trajeto de 12 quarteirões a pé para chegar ao trabalho, onde tem
disponível uma vaga de garagem para estacionar seu veículo. Mesmo assim, ele
prefere essa opção. "Adoro caminhar. É mais saudável. Além disso, se
utilizasse o carro para ir ao trabalho, demoraria mais a chegar. Penso também
que pegar o veículo para ir sozinho teria um impacto negativo na questão da
mobilidade", afirma. Segundo o portal Mobilize Brasil, a opção pelo
automóvel, que parecia ser a resposta eficiente do século XX à necessidade de
circulação, levou à paralisia do trânsito, além dos problemas ambientais de
poluição atmosférica e de ocupação do espaço público. O portal mostra que, no
Brasil, a frota de automóveis e motocicletas teve crescimento de 400% nos
últimos dez anos. Diante disso, emerge a necessidade de se buscar a mobilidade
urbana sustentável. De acordo com o Mobilize Brasil, o conceito é amplo e
envolve a implantação de sistemas sobre trilhos, ônibus "limpos", com
integração a ciclovias, esteiras rolantes, elevadores de grande capacidade.
Além disso, contempla soluções inovadoras, como os sistemas de bicicletas
públicas implantados em Copenhague, Paris, Barcelona, Bogotá, Boston e várias
outras cidades. E, também, calçadas confortáveis, niveladas, sem buracos e
obstáculos. Identificação - O presidente da Comissão de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável da ALMG, deputado Célio Moreira (PSDB), ressalta
que, no Brasil, de modo geral, falta uma maior identificação entre a população
e a bicicleta, como acontece em outros países, onde o modal está no centro de
importantes eventos. “Aqui, além da falta de incentivo, a violência do trânsito
acaba sendo um desestímulo ao seu uso. O ideal é que o poder público privilegie
o ciclismo construindo ciclovias e promova também eventos esportivos
aproximando a população da prática do ciclismo, num contexto ecológico”,
salienta. O Ministério do Meio Ambiente afirma que o padrão de mobilidade
centrado no transporte motorizado individual mostra-se insustentável, tanto no
que se refere à proteção ambiental quanto no atendimento das necessidades de
deslocamento que caracterizam a vida urbana. O aumento da capacidade viária,
segundo informações do Ministério, estimula o uso do carro e gera novos
congestionamentos, alimentando um ciclo vicioso responsável pela degradação da
qualidade do ar, aquecimento global e comprometimento da qualidade de vida nas
cidades. Isso significa aumento nos níveis de ruídos, perda de tempo,
degradação do espaço público, atropelamentos e estresse. Vantagens – O uso de
bicicletas e as caminhadas trazem benefícios como a redução significativa dos
gases poluentes em meio urbano e dos ruídos nas cidades. Encorajar esse tipo de
mobilidade favorece a diminuição da poluição sonora, pois tanto as bicicletas
quanto o andar a pé não emitem o ruído produzido pelos veículos com motor de
combustão convencionais. Outra vantagem são os benefícios para a saúde. Ao
substituir deslocamentos em veículos por modos ativos, em que é exigido algum
esforço físico do utilizador, há melhorias quanto ao bem-estar físico e à saúde
das pessoas que adotaram essa forma. São diversos os grupos de ciclistas que
utilizam a bicicleta como meio de transporte em Belo Horizonte e que creem que
são capazes, a partir dessa decisão, de trazer contribuições para os problemas
da mobilidade urbana na Capital. Massa Crítica, RUTs, Le Vélo, Minas Riders,
Pedal dos Rôia, MTB Barreiro, Pedal da Madruga, Zoobiker, Pedal de Salto Alto,
entre outros, são exemplos de grupos que se reúnem com frequência semanal,
quinzenal ou mensal para andar pela cidade e divulgar a prática. Apesar disso,
a Pesquisa Origem e Destino 2001-2002, a mais recente realizada pela Empresa de
Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans), mostra que a quantidade de
deslocamentos feitos por bicicletas na cidade ainda é irrisória, em torno de
1,2%. Guilherme Lara Camargos Tampieri, voluntário da BH em Ciclo (Associação
de Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte) e do Movimento Nossa BH, utiliza a
bicicleta como principal modal de transporte há sete anos. Com 24 anos, ele conta
que também anda a pé e utiliza o transporte coletivo para uma porcentagem menor
de deslocamentos. “Se eu pudesse quantificar, diria que 90% dos meus
deslocamentos são feitos de bicicleta e os outros 10% ficam divididos entre
ônibus e a pé. Raramente pego alguma carona”, afirma. Em relação às
dificuldades para a massificação do uso da bicicleta em Belo Horizonte,
Tampieri justifica que o fato se dá, principalmente, pela falta de educação dos
motoristas. Segundo ele, o aumento diário da frota de veículos resulta em mais
congestionamentos e torna o trânsito mais violento, o que desencoraja as
pessoas a pedalar. “Assim, onde não há educação e bom senso dos motoristas, não
há proteção para os ciclistas”, relata. Ciclovias – A BHTrans criou o programa
Pedala BH, que atualmente faz parte do Plano de Mobilidade da Capital, com o
objetivo de promover o uso da bicicleta. Para isso, o programa implanta rotas
cicloviárias e estacionamentos para bicicletas, além de campanhas de educação e
de segurança no trânsito. O programa identificou 380 quilômetros de rotas
possíveis de se implantar ciclovias em Belo Horizonte, e a meta é chegar a esse
número até 2020. Com isso, a empresa espera que 6% de todos os deslocamentos da
Capital se deem por meio do uso da bicicleta. Atualmente, são 51,3 quilômetros
de áreas para ciclistas, contando com projeto de sinalização cicloviária
compartilhada no interior do Parque Ecológico da Pampulha. De acordo com a
BHTrans, em 2013, há previsão de implantação de mais 26 rotas, incluindo as das
avenidas Clóvis Salgado, Olegário Maciel, Barbacena, Carandaí, Teresa Cristina,
Olinto Meireles, Dom João VI, Saramenha, além da MG-020, que irão totalizar
outros 20,5 quilômetros de ciclovias. Foram investidos pela prefeitura, entre
2011 e 2012, R$ 3 milhões em novas rotas e projetos, além de um contrato
vigente de R$ 3 milhões para novas implantações. Tampieri faz algumas
considerações ao Pedala BH. De acordo com ele, o primeiro problema decorre do
fato de que o programa não foi elaborado com a participação dos ciclistas da
cidade. Outro problema apontado é que não houve estudo de demanda para se
averiguar trajetos de ciclistas pela Capital. “Essas ciclovias não apenas foram
feitas sem levar em consideração a opinião dos ciclistas, mas também sem considerar
padrões mínimos de segurança estabelecidos”, disse. Grupo de trabalho – Por
causa dessas discordâncias, foi criado, no fim do ano passado, o Grupo de
Trabalho Pedala BH. Segundo Tampieri, o grupo, do qual a BH em Ciclo faz parte,
chegou à conclusão de que nenhuma ciclovia seria feita em Belo Horizonte sem
consultar os ciclistas. A BHTrans firmou um compromisso de, posteriormente,
rever as ciclovias que apresentaram algum problema e interrompeu as ordens de
serviço para que haja entendimento com os ciclistas.
Confira as ciclovias em Belo Horizonte: Rota Trajeto
Nordeste
Av. Risoleta Neves (conexão da estação BHBus São
Gabriel à Ciclovia existente na av. Saramenha). Extensão: 2,20km
Savassi
Rua Prof. Morais / av. Bernardo Monteiro / av.
Carandaí / rua Piauí. Extensão: 2,80 km
Américo Vespúcio
Entre Av. Antônio Carlos e Av. Carlos Luz -
Extensão: 2,20 km
Leste
Av. dos Andradas / av. Itaituba / rua Lassance (fará
a ligação da região Leste à região central e Savassi, conectando-se à ciclovia
Rota Savassi). Concluído 1 Km entre avenidas Silviano Brandão e Itaituba.
Extensão: 4,85 km / Obra em andamento.
Boulevard Arrudas
Entre rua dos Carijós e av. Barbacena. Extensão: 1
km
Barreiro
Liga a avenida do Canal ao Via Shopping, na região
do Barreiro. Extensão: 2,20 km
João Pinheiro
Extensão 1 Km
Noroeste/Pampulha
Av. João XXIII, entre avenidas Presidente Tancredo
Neves e Abílio Machado. Extensão: 1,6 km
Tancredo Neves
Av. Presidente Tancredo Neves entre av. Dom Pedro
II/Anel Rodoviário e av. João XXIII. Extensão: 600 metros
Fernandes Tourinho
Rua Antônio de Albuquerque, rua Levindo Lopes, rua
Fernandes Tourinho (até a Rio de Janeiro). Extensão: 1,3 km
Rio de Janeiro
Entre ruas Fernandes Tourinho e Alvarenga Peixoto;
rua Alvarenga Peixoto, entre Rio de Janeiro e São Paulo; rua São Paulo, entre
Alvarenga Peixoto e av. Álvares Cabral; av. Álvares Cabral, entre São Paulo e
Rio de Janeiro; rua Rio de Janeiro, entre Álvares Cabral e av. Augusto de Lima.
Extensão: 1,9 km
Fleming
Av. Fleming entre av. Otacílio Negrão de Lima e rua
Sena Madureira. Extensão: 1,79 km
Bicicletários
Quatro em operação nas Estações BHBUS Barreiro,
Venda Nova, São Gabriel e Diamante. Devem ser implantados novos bicicletários
em outras estações.
Paraciclos
Em 2011 foram implantadas 52 unidades, junto às
rotas cicloviárias existentes e em implantação. Com isso, foram criadas 104
vagas de estacionamento para bicicletas na regiões da Savassi, Hospitalar,
Central, Nordeste, Barreiro, Noroeste e Leste. – BHtrans
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