Dentre
os benefícios estão redução do número de mudas e possibilidade de aumento dos
ganhos do produtor. O Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, desenvolveu
sistema inédito que muda o conceito de plantar cana-de-açúcar. O sistema de
Mudas pré-brotadas (MPB) de cana é uma tecnologia de multiplicação que poderá
contribuir para a produção rápida de mudas, associando elevado padrão de
fitossanidade, vigor e uniformidade de plantio. Outro grande benefício está na
redução da quantidade de mudas que vai a campo. Para o plantio de um hectare de
cana, o consumo de mudas cai de 18 a 20 toneladas, no plantio convencional,
para 2 toneladas no MPB. “Isso significa que 18 toneladas que seriam enterradas
como mudas irão para a indústria produzir álcool e açúcar, gerando ganhos”,
explica Mauro Alexandre Xavier, pesquisador do IAC, da Secretaria de
Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. A nova tecnologia
desenvolvida pelo Programa Cana do IAC é direcionada a aumentar a eficiência e
os ganhos econômicos na implantação de viveiros, replantio de áreas comerciais
e possivelmente renovação e expansão de áreas de cana-de-açúcar. “Trata-se de
um novo conceito no método de multiplicação da cana-de-açúcar, reduzindo volume
e levando para o campo efetivamente uma planta”, diz Xavier, integrante do
Programa Cana IAC. O MPB muda o conceito de multiplicação de mudas. Até então é
usado o sistema convencional, adotado
desde a chegada das primeiras canas ao Brasil, por volta de 1.530. “No
convencional, abre-se o sulco e põe colmo semente dentro. Agora propomos
colocar a planta”, afirma. A tecnologia do MPB permite mudar a forma de
produção de mudas. No lugar dos colmos como sementes, entram as mudas pré-brotadas
que são produzidas a partir de cortes de canas, chamados minirrebolos – onde
estão as gemas. Depois passam por uma seleção visual e são tratados com
fungicida. São colocados em caixas de brotação com temperatura e umidade
controlada, e ao final colocadas em tubetes que passam por duas fases de
aclimatação. O ciclo completo leva 60 dias. “As falhas ocorridas nas áreas de
plantios decorrem da falta de uniformidade de diversos fatores do sistema
atual, muitas vezes deve-se ao uso excessivo de mudas que brotam e acabam
competindo por água luz e nutrientes”, explica o pesquisador. Já o novo método
aumenta a uniformidade nas linhas de plantio e, consequentemente, reduz as
falhas. O sistema envolve a formação de viveiros para multiplicação rápida de
novos materiais de cana. É um método simples que pode ser adotado por pequenos
produtores e associações, não ficando restrito às usinas. De acordo com o
pesquisador, o MPB restaura os benefícios da formação de mudas em viveiros,
procedimento que fora praticamente esquecido com o boom do setor, apesar de
gerar benefícios como aspectos fitossanitários da planta. Dentre as principais
vantagens do sistema estão o menor volume de mudas a ser transportado para o
campo de plantio e o grande salto na qualidade fitossanitária das mudas. O MPB
está sendo adotado em várias regiões brasileiras. “Pela simplicidade do método e
suas variações, está bem distribuído, o MPB já está em Goiás e região Central
de São Paulo, muitos produtores de inúmeros Estados deverão adotar o método no
curto e médio prazo”, diz o pesquisador do IAC. Na Agrishow 2013, o público
poderá ver duas variedades de cana IAC plantadas no sistema convencional e no
MPB, a IACSP95-5094 e a IACSP95-5000. Entretanto, como o plantio foi feito em
janeiro passado, ainda é cedo para identificar grandes diferenças. “No MPB
ocorrerá a partir dos 150 dias após o plantio um aumento no número de colmos
industrializáveis”, diz. O MPB contribui para reduzir as ocorrências de pragas
e doenças na implantação do canavial por usar mudas sadias. “Desde 2009, o
Programa Cana IAC optou por não entregar mais colmos “semente” para
multiplicação e instalação de sua rede experimental. Desde então vem
desenvolvendo o sistema MPB”, afirma Xavier. A tecnologia surgiu da necessidade
de entregar um material não convencional de colmos, para tentar evitar a
disseminação do Sphenophorus levis, uma importante praga da cana-de-açúcar. Até
meados da década de 1980, o besouro Sphenophorus Levis estava restrito à região
de Piracicaba, mas atualmente é observado em praticamente todo o Estado de São
Paulo, Minas Gerais e norte do Paraná. É muito provável que esta praga também
já esteja em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, embora ainda não haja
registros de ocorrência. As preocupações se justificam porque as larvas causam
acentuada destruição das soqueiras, provocando redução de produtividade e de
longevidade do canavial. Ainda dentre os benefícios do sistema, destaca-se o
uso de maquinários. A plantadeira em uso no MPB é muito mais barata que as
utilizadas no sistema convencional, há produtores usando máquinas que plantam eucalipto.
É possível que esse novo sistema estimule a movimentação na indústria para
desenvolvimento de máquina específica e compatível ao MPB. O MPB permite
alcançar aumento de eficiência e ganho econômico na implantação de viveiros,
replantio de áreas comerciais e expansão e renovação de áreas plantadas de
cana-de-açúcar. Entretanto para a implantação do sistema em grande escala é
necessário o esforço e cooperação entre instituições de pesquisa de
melhoramento genético, fitotecnia e mecanização para a plena viabilização do
plantio em área comercial. “Penso que deveria haver um esforço na formação de
uma grande rede de experimentação que possa desenvolver um pacote fitotécnico
que gere sustentabilidade para esse novo método de plantio de cana-de-açúcar”,
considera. – Ascom – Carla Gomes
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