Doze pessoas foram presas nesta terça-feira (26)
durante a “Operação Ressurreição”, deflagrada para desarticular uma quadrilha
suspeita de aplicar golpes para obter o seguro DPVAT (Danos Pessoais Causados
por Veículos Automotores de Vias Terrestres) e driblar o rodízio de empresas
funerárias em Curitiba. Entre os
presos estão donos de funerárias, motoristas do Instituto Médico Legal (IML) e
empresários. As pessoas detidas
serão indiciadas pelos crimes de associação criminosa, corrupção ativa,
corrupção passiva, estelionato e falsidade ideológica. Além deles, um médico da Unidade de
Pronto Atendimento (UPA) de Colombo, um advogado e um gerente de banco foram
alvos de mandados de condução coercitiva – quando a pessoa é levada para depor
na delegacia. Em 14 mandados de
busca e apreensão, além de vasta documentação, foram apreendidas cinco armas e
mais R$ 4,8 mil. Entre os suspeitos há dois agentes funerários – um deles está
foragido e o outro foi preso em flagrante porque uma arma foi encontrada em seu
poder durante o mandado de busca. A
investigação foi conduzida pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce)
e a operação aconteceu em Curitiba, Almirante Tamandaré, Colombo, Pinhais,
Piraquara e Ponta Grossa, contando com a atuação de 60 policiais. “Alguns dos suspeitos são funcionários
públicos e deveriam zelar pela administração pública. Casos esses servidores
sejam concursados, a Secretaria da Segurança Pública vai abrir um procedimento
administrativo que pode resultar até na expulsão do servidor. Nossa gestão não
vai compactuar com desvios de conduta”, afirmou o secretário da Segurança
Pública e Administração Penitenciária, Wagner Mesquita. CRIMES – Os investigados passavam o
dia, e especialmente a madrugada, atrás de corpos de vítimas de acidentes de
trânsito ou morte natural. Para isso, corrompiam motoristas do IML para que
eles fornecessem informações privilegiadas e em tempo real dos óbitos ocorridos
na Capital, Região Metropolitana e em Ponta Grossa. Para cada “corpo”, a quadrilha
oferecia R$ 700 aos motoristas do IML. Dos quatro funcionários do Instituto
investigados, pelo menos dois deles usam aparelhos celulares em nome dos
suspeitos, e pagos por eles, uma forma de facilitar o repasse das informações. De acordo com a polícia, os dados
privilegiados chegavam até a quadrilha também através de socorristas do Siate,
sendo que, por ora, na investigação, não há indícios de que estes socorristas
receberam dinheiro da quadrilha. De
posse das informações sobre o morto, os integrantes da quadrilha faziam contato
com os familiares para obter deles procurações para dar entrada no seguro
DPVAT, cujo valor pode chegar até R$ 13,5 mil. Uma pequena parte deste dinheiro
era repassada às famílias dos mortos e o restante ficava com a organização
criminosa. A alegação era de que o restante era gasto nas despesas do enterro. Nos casos de mortes naturais, após
serem informados pelos motoristas envolvidos, integrantes da quadrilha ligavam
para o IML se passando por parentes da vítima e cancelando o atendimento do
Instituto. A quadrilha, então, acionava um médico da UPA de Colombo para
atestar o óbito e direcionar o serviço funerário para as empresas ligadas ao
esquema. A polícia investiga se o médico, que foi conduzido coercitivamente,
era conivente com os criminosos ou se foi uma vítima desta quadrilha. “Os investigados utilizam todo tipo de
artimanha para enganar parentes das vítimas, se aproveitando, obviamente, do
momento de fragilidade que estas se encontram. Nos casos de morte natural,
inúmeras são as conversas onde eles se passam por policiais militares e também
por servidores do IML, visando direcionar o sepultamento para funerárias
'parceiras', onde eles ganham uma comissão, fraudando documentos para essa finalidade”,
explicou o delegado do Nurce, Renato Bastos Figueroa. Um dos documentos falsificados foi um
Boletim de Ocorrência no qual um dos suspeitos tentou fraudar a morte do
próprio pai. O suspeito chegou a fazer um Boletim de Ocorrência em 25 de
fevereiro de 2015, comunicando a morte do pai, vítima de atropelamento. Para a
surpresa dos investigadores, o “morto” apareceu em uma das conversas
interceptadas, autorizadas pela Justiça. Em
outra conversa interceptada com autorização judicial, outro integrante da
quadrilha se passa por um oficial do Exército para tentar aplicar o golpe. Ele
liga para um familiar de um dos soldados que morreu num grave acidente em 19 de
janeiro de 2016, na PR-412, em Coroados, próximo à entrada de Guaratuba, no
Litoral do Paraná. O golpe não foi consumado porque um oficial do Exército
chegou ao IML e a quadrilha desistiu. “Há
meses, a Polícia Civil investigava essa quadrilha, que fraudava documentos e
enganava familiares dos mortos em um momento extremamente difícil, em razão da
perda de um familiar, e acabava auferindo lucros enormes. Agora, os envolvidos
estão presos, vários mandados foram cumpridos e o inquérito deverá ser
concluído no prazo legal”, afirmou o delegado-geral da Polícia Civil, Julio
Cezar dos Reis. INVESTIGAÇÃO – O
trabalho da polícia começou em julho de 2015, após representantes do IML
comunicarem irregularidades na liberação dos corpos de duas pessoas. Em um dos
casos, os registros sobre o óbito de uma mulher teriam desaparecido do
Instituto, sendo ela enterrada no município da Lapa, através do esquema montado
pela quadrilha. “Após um
mapeamento interno dessas irregularidades por parte da direção do IML e da
Polícia Científica, a denúncia foi entregue à Polícia Civil, que fez todas as
diligências necessárias”, explicou o diretor-geral da Polícia Científica do
Paraná, HemersonBertassoni Alves. Outro
caso envolve um homem declarado morto pelo próprio filho, que foi induzido
pelos golpistas. O crime não se consumou porque a seguradora desconfiou das
informações repassadas. De acordo
com as investigações, os mentores do esquema criminoso contavam com a ajuda dos
motoristas do IML, donos de um despachante e de funerárias que funcionavam na
Região Metropolitana de Curitiba. A
polícia investiga o suposto envolvimento de um médico da UPA de Colombo, que
atestou o óbito de algumas pessoas, de um advogado e de um funcionário de um
banco que repassava informações de contas bancárias de terceiros. Os três foram
conduzidos coercitivamente para prestar depoimento.–Secom
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