Cepea, 20 – O volume de mandioca processado pela
indústria de fécula no primeiro trimestre deste ano foi o maior já registrado
pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP,
que acompanha semanalmente a atividade de fecularias desde 2006. No trimestre,
a indústria de fécula processou 666,5 mil toneladas, aumento de 29% frente ao
mesmo período de 2015. No primeiro trimestre, a colheita da raiz também se
intensificou, mas a maior demanda da indústria de fécula e também de
farinheiras acirrou a disputa pela mandioca e elevou o preço da matéria-prima.
Em março, o valor médio a prazo da tonelada de mandioca posta em fecularia foi
de R$ 324,06, alta de 49,8% frente à média de dezembro, conforme dados do
Cepea. No comparativo com março do ano passado, a valorização é de 69% em
termos reais (valores atualizados pelo IGP-DI de março/16). A situação atual,
mais uma vez, reflete o movimento “pendular” que o mercado de mandioca nacional
tem apresentado, explicam pesquisadores do Cepea. Numa temporada, a produção
aumenta, os preços caem e os produtores se desestimulam para o ano seguinte,
quando a oferta diminui e a matéria-prima volta a se valorizar, servindo
novamente de estímulo para a cultura. Conforme dados mais recentes do IBGE, a
baixa rentabilidade da mandioca levou a área plantada a ter inexpressivo
crescimento de 2% entre 2013 e 2014. Os investimentos nas lavouras, no entanto,
foram pequenos e a produtividade média das áreas que estão sendo colhidas neste
ano está baixa. Levantamentos primários do Cepea mostram que os custos totais
da produção agrícola na safra 2014/2015 estiveram entre R$ 203,00/t (regiões de
Mato Grosso do Sul) e R$ 328,00/t (regiões paranaenses), em áreas arrendadas.
Como em nenhuma das regiões os preços médios chegaram a R$ 170,00/t em 2015, o
prejuízo sobre o custo total chegou a ser de 50% na última safra, o que reduziu
a área plantada e investimentos na temporada corrente (2015/16). Agora, os
preços voltam a ser atrativos. Porém, ainda há casos de endividamento e de
dificuldades de acesso ao crédito, fatores que poderão limitar avanços
expressivos na área a ser cultivada na temporada 2016/17. As sucessivas altas
dos preços do amido de milho – concorrente direto da fécula de mandioca – e a
necessidade de reposição de estoques por parte de consumidores de fécula têm
mantido aquecidas as negociações desse produto, que também segue se
valorizando. Conforme o Cepea, nos primeiros três meses deste ano, a fécula
teve alta de 43,5%, passando de R$ 1.449,54/t em dezembro para R$ 2.080,11/t em
março. Quando se compara a média de março à de um ano atrás, constata-se avanço
de 60% em termos reais. Na expectativa de que os preços tenham altas ainda mais
expressivas nos próximos períodos – especialmente no segundo semestre –, parte
das fecularias e até mesmo consumidores de fécula passaram a formar estoques.
Além disso, intensificou-se a comercialização entre as próprias fecularias. O
mercado de fécula tem sido influenciado também pela estiagem que reduziu a
produção de farinha nas regiões Norte e Nordeste entre janeiro e março, aponta
a equipe Cepea. Com isso, agentes daquelas regiões passaram a se abastecer com
farinha e até mesmo com mandioca do Centro-Sul, especialmente do Paraná e do
estado de São Paulo, o que elevou também os preços das farinhas nos últimos
meses. Em março, o valor médio a prazo da saca de 50 kg da farinha de mandioca
branca fina/crua tipo 1 foi de R$ 93,35, com alta de 16% na comparação com dezembro
e de 61,4% em 12 meses, aponta o Cepea. A farinha grossa/crua, também tipo 1,
teve média a prazo de R$ 69,01 por saca de 40 kg em março, alta trimestral de
15% e de 62% sobre março/15 – série atualizada pelo IGP-DI mar/16. Conforme
pesquisadores do Cepea, a oferta de mandioca pode diminuir no segundo semestre,
o que tenderia a sustentar as cotações. A definição dos próximos investimentos,
no entanto, leva em conta não só os preços atuais. Em sentido contrário, pesam
o endividamento de parte dos produtores, condições não muito atraentes para a
obtenção de crédito, menor oferta de áreas para arrendamento e também de
material de plantio, especialmente de variedades mais precoces. –Secom
tvgazetalife@hotmail.com
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