terça-feira, 28 de maio de 2013

MARIANA MEIRELLES ASSUME A SECRETARIA DE ARTICULAÇÃO INSTITUCIONAL E CIDADANIA AMBIENTAL COM O DESAFIO DE AJUDAR A CONSTRUIR UM NOVO MODELO DE DESENVOLVIMENTO

Promover novos padrões de produção e consumo sustentáveis, por meio de políticas públicas e parcerias, é um dos desafios da nova secretaria de Articulação Institucional e Cidadania do Ministério do Meio Ambiente, Mariana Meirelles. A nova gestora assumiu a pasta este mês, quando deixou o cargo de vice-presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). E destaca, em entrevista, a importância do diálogo entre todos os setores para a construção de um novo modelo de desenvolvimento.  O desenvolvimento sustentável é um dos focos da Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental (SAIC). Com a sua experiência neste tema, como espera contribuir para a promoção da sustentabilidade? A minha história com a sustentabilidade começou no momento em que eu entrei para o governo, em 1998. Por coincidência, o meu primeiro trabalho foi analisar de que forma a Agenda 21 Brasileira, que estava em discussão na época, poderia orientar um plano de desenvolvimento para o país e como ela poderia se inserir no Plano Plurianual 2000-2003. Foi quando comecei a me envolver pela questão socioambiental. O papel da SAIC, além de intensificar o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS), é fazer com que as articulações que existem entre o setor empresarial e da sociedade civil, juntamente com o governo, se orientem para a construção de um novo modelo de desenvolvimento, não tão calcado na lógica de produção e consumo do século passado, mas orientado para internalizar a vertente da sustentabilidade. A SAIC é uma instituição importante para esse diálogo.  A senhora já participava da Rede de Mulheres Brasileiras Líderes pela Sustentabilidade do MMA. Como avalia o atual papel das mulheres na disseminação de valores e comportamentos sustentáveis? O modelo mental feminino se aproxima muito do modelo mental necessário para a compreensão da sustentabilidade. A Rede trabalha bem essa questão, reforçando como a mulher pode agir na construção de um mundo mais sustentável. O papel que a mulher exerce, principalmente dentro das famílias, aponta que toda decisão de consumo passa por uma escolha feminina. Na maioria dos casos, a mãe é quem define o que as crianças vão comer, o que os maridos vão vestir. Isso é muito do papel feminino. A Rede também está discutindo negócios sustentáveis. Muitos dos negócios sustentáveis que estão em pauta acabam, de alguma forma, tangenciando o papel da mulher. Muitas vezes são negócios que surgem a partir de mulheres que, ao lado dos maridos, precisam buscar renda informal, porque elas cuidam das crianças e não têm condições de entrar em um trabalho efetivo, cobrindo oito horas diárias. Neste sentido, negócios sustentáveis se adaptam melhor à condição da mulher no contexto familiar e da comunidade. Isso também é um viés importante que a Rede discute. Por isso, a Rede de mulheres é tão interessante. Ela sai da discussão trivial, sobre o novo papel da mulher na sociedade e vai além. Discute-se o papel da mulher na construção de um novo modelo de desenvolvimento. Isso sempre me mobilizou e eu acabei me envolvendo muito com a Rede por conta disto. Os padrões de produção e consumo dos brasileiros ainda estão longe de ser sustentáveis? Ainda estamos muito longe do que deveríamos estar em termos de padrão de consumo. Principalmente hoje, com a nova classe média consumindo mais, o que é absolutamente natural, mas a ideia é que esse consumo seja feito respeitando os limites do planeta. Nós estamos muito aquém do que deveríamos estar. No entanto, já há indícios de que a sociedade está disposta a alterar esse padrão. Alguns exemplos importantes: o comportamento de algumas pessoas que já não usam sacolas plásticas nos supermercados, utilizando como opção as sacolas retornáveis, os caixas ecológicos no comércio, o engajamento da sociedade na reciclagem, coleta seletiva e no uso de bicicletas para se locomover nas cidades. Por isso digo que estamos aquém de um patamar ideal de consumo sustentável, mas mobilizados. Há um terreno fértil para trabalhar. E no que se refere à produção, empresas líderes já estão compreendendo que precisam mudar seus padrões para que possam ter vantagens comparativas. Não que isso esteja disseminado em todo o setor produtivo, mas acho que o grande gargalo ainda seriam as pequenas e médias empresas. Elas ainda não estão preparadas para a mudança de padrão de produção, mas empresas líderes já fazem a diferença e nós já temos um caminho mais fértil. Tudo isso dimensiona o desafio que temos no fortalecimento do Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS).  Como a educação ambiental pode auxiliar neste processo? A educação ambiental é uma função muito importante que, primeiramente, pode ajudar a alterar a base do conhecimento. O papel da educação ambiental na formação de crianças e adolescentes é absolutamente substantivo. Considero que o Brasil já caminhou muito, inclusive na parceria do Ministério do Meio Ambiente com o Ministério da Educação, que já gerou frutos muito positivos. Mas a educação ambiental é uma função transversal que também pode apoiar a implantação de políticas importantes, não só o nosso Plano de Ação para Produção e Consumo, como também a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a Política de Desenvolvimento Rural Sustentável, a Estratégia Nacional de Biodiversidade, dentre outras. Temos que nos ancorar nessa rede de educadores ambientais e ir formulando metodologias para apoiar a implementação das políticas, não como meio, mas como uma função importante para que elas possam ser desempenhadas e os objetivos alcançados. Quais são as perspectivas do trabalho desenvolvido pela secretaria para sua gestão? Uma das metas é alavancar o Plano de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS), além de adensar compras sustentáveis. O Brasil ainda tem 0,1% de compras do governo federal sustentáveis. Embora já tenhamos evoluído com decretos e normas internas para promoção das compras sustentáveis, ainda temos um caminho importante a percorrer. Outro ponto é fazer com que a educação ambiental e a participação social sejam úteis para a implementação de todas as políticas, não só da SAIC, como do ministério como um todo. Estamos vivendo um momento rico, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a estratégia nacional de biodiversidade, o novo marco institucional para o licenciamento ambiental; e a educação ambiental não pode estar ensimesmada, nem muito menos a participação social. Vou trabalhar neste sentido, focalizando em poucas coisas, mas que sejam substantivas. Que possamos de alguma forma colaborar com a transformação do país, em direção a uma nova economia e um novo modelo de desenvolvimento.  O Brasil tem como meta implantar a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), principal tema da IV Conferência Nacional do Meio Ambiente deste ano. Quais os desafios desta quarta edição? A expectativa é que possamos gerar insumos importantes para a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Esta Conferência é temática. É claro que existem tantas outras questões para se discutir sobre política ambiental, mas a PNRS está se instalando com muitos desafios: logística reversa, criação de aterros, inclusão social por meio dos catadores. Temos muitos desafios e ainda poucos meios, por isso a conferência deve ser um espaço importante para geração de propostas que ajudem a colocar a política em prática, porque ela já está criada. Agora é articular como implementar a política com escala, foco e compreensão social. Mais importante do que a participação social e o controle social é a compressão da sociedade. - Ascom

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