UM OLHO NO PEIXE, OUTRO NO GATO
O agro brasileiro poderia ser bem mais
assertivo em sua comunicação com os mercados, aqui e no exterior. Falar mais
das coisas boas que faz, seguindo os melhores padrões mundiais e até fazendo
melhor. Também precisa manter ou acelerar seu ritmo de inovações, porque o
Brasil é competidor chave na produção de comida para o planeta. Duas
formidáveis oportunidades, que pedem foco em dois eixos centrais de ação: um
eixo quantitativo de oferta, para assegurar condições de estrutura, tecnologia
e capital humano alinhadas com a demanda global que se projeta. E um eixo
qualitativo de oferta para construir (ou fazer valer) políticas públicas e
programas estratégicos de marketing e comunicação além-mar, dialogando com as
pressões sociais relativas ao ambiente e segurança dos alimentos, mundo afora. Hoje,
grosso modo e considerando os números por baixo, a população mundial está
distribuída na seguinte base geográfica: um bilhão de pessoas nas Américas, na
Europa e na África, mais quatro bilhões na Ásia, totalizando cerca de sete
bilhões. Daqui a 30 anos, no entanto, as projeções indicam um, um, cinco e três
bilhões respectivamente, somando dez bilhões. Mas 80% dessa população estarão
na África e na Ásia, cujas terras agricultáveis não conseguirão responder ao
desafio de alimentar suas populações. Aí entra o Brasil: terá um senhor desafio
pela frente, é claro, mas também uma concreta oportunidade de gerar mais
riquezas, empregos e bem-estar no país. Este será o nosso foco quantitativo de
oferta alimentar. Até lá, crescerá a média de população urbanizada no
mundo, atingindo 80-90%. Ou seja, alta pressão por comida e também por água,
sequestro de carbono, proteção de recursos naturais e outras demandas sociais
do mundo contemporâneo. É o eixo qualitativo de oferta, que pressionará o
nosso agro a rever paradigmas de produto e produção, para acompanhar o espírito
do nosso tempo. Mudar para responder a pressões do consumidor internacional
quanto a mudanças climáticas, sustentabilidade, rastreabilidade dos produtos,
segurança do alimento e bem-estar animal. E ainda comunicar tudo isso muito
bem, dando visibilidade ao que fazemos de certo, com consistência e consciência.
São várias demandas a um só tempo. Mas dá para planejar e, além disso,
compensa, já que cada mudança com impacto na percepção do consumidor retorna um
efeito positivo para quem produz. Dois exemplos simples: a linha de lácteos da
Cooperativa Aurora tem nas embalagens um código QR (aquele que se focaliza com
o celular), informando de qual produtor saiu o leite para aquele produto. Cafés
diferenciados da Serra da Mantiqueira (MG) vão além e usam o código QR para
contar uma pequena história do produtor que plantou o café. Resultado positivo
nas duas iniciativas, segundo seus idealizadores, contribuindo para a lembrança
e valor desses produtos e marcas no mercado. São coisas desse tipo que o
mundo está pedindo, tanto no mercado interno como externo, em maior ou menor
grau. Isto significa que a tendência parece ser de mudanças mais e mais
frequentes e amplas, envolvendo não apenas as tecnologias produtivas, mas
também modelos de negócios, gestão dos sistemas de produção, design dos
processos, sustentabilidade e marketing dos setores. Vai chegar um momento em
que o agro vai abrir suas portas em definitivo às mudanças culturais do consumo
alimentar, que hoje movimentam os principais mercados do planeta. Será um
momento de transparência e comunicação intensiva.
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