Evento também
contou com a presença de representantes do Vaticano, da Igreja Católica e
autoridades estaduais.
Cerca de 20 mil pessoas acompanharam, neste sábado (14/11), em Três Pontas, no
Território Sul, a cerimônia de beatificação do Padre Francisco de Paula Victor,
o primeiro ex-escravo do Brasil a se tornar beato. O evento, realizado no
aeroporto do município, contou com a participação de representantes do
Vaticano, fiéis de todo o país e autoridades estaduais. O secretário de
Governo, Odair Cunha, prestigiou o ato representando o governador de Minas
Gerais, Fernando Pimentel. Mineiro de Campanha, Padre Victor – como ficou
conhecido – teve a sua beatificação aprovada pelo Vaticano em junho deste ano,
após uma mulher conseguir engravidar mesmo após a medicina afirmar que isso
seria impossível. Em suas orações, a mulher pediu ao padre que intercedesse e
realizasse o seu sonho de ser mãe, o que aconteceu em 2010. A cerimônia foi
aberta com o rito de beatificação, feito pelo prefeito da Congregação das
Causas dos Santos, Cardeal Ângelo Amato, representante do Papa Francisco no
ato. Em seguida, deu-se início a Santa Missa, presidida pelo Bispo da Diocese
da Campanha, Dom Frei Diamantino Prata de Carvalho. Durante a cerimônia
religiosa, os bispos presentes foram conduzidos ao altar para o ato
penitencial. Ainda durante o ato, a imagem oficial do beato foi apresentada,
com os símbolos de sua origem e sua feição. Agora, a imagem poderá ter um lugar
no altar da Igreja. A história de vida do beato também foi relatada durante o
rito da beatificação. Exemplo - A história de dedicação de
Padre Victor aos mais necessitados, segundo Odair Cunha, é o maior legado
deixado pelo religioso. O secretário representou o governador Fernando Pimentel
na cerimônia. O governador retornou neste sábado a Governador Valadares ao lado
do ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, para acompanhar os
trabalhos das equipes que monitoram a situação do rio Doce, atingidos pelos
rejeitos das barragens Santarém e Fundão, em Mariana. “Sua dedicação aos
pobres, aos outros e o fato também de ser um negro, um escravo, faz com que nós
tenhamos a oportunidade de reverenciar a vida e a história de tantos outros
negros e negros anônimas que contribuíram para o crescimento do Sul de Minas,
de Minas e do Brasil”, afirmou Odair Cunha. O secretário ainda reforçou a
importância para o crescimento e fortalecimento do turismo religioso no Estado.
“Fico feliz com esse gesto da Igreja Católica faz com este mineiro da Campanha,
que se notabilizou pelo seu trabalho, pela sua dedicação aqui na cidade de Três
Pontas”, afirmou. Já o padre Mateus Arantes, vigário paroquial da Igreja Matriz
de Três Pontas e um dos líderes da organização do evento de beatificação,
destacou a parceria entre o Governo do Estado, a Prefeitura e a Igreja na
realização da cerimônia. “Nós estamos organizados e com o coração agradecido,
porque evento é esperado há mais de 110 anos. Padre Victor morreu em fama de
santidade”, destacou, ressaltando seus feitos por toda a região. São muitas as
histórias de devoção em torno do religioso por suas intervenções. O agricultor
da cidade de Paraguaçu (Sul de Minas), Deni Vilela Prado, 54, viajou ao lado da
mulher Vilma Santos Silva, 49, para prestigiar a beatificação de Padre Victor,
considerado por eles como “um herói da Igreja Católica”. Eles afirmam terem
sido atendidos pelo beato em diversos momentos. O mais importante foi a cura de
uma grave trombose enfrentada por Deni há 11 anos. “Fiz diversos tratamentos e
não obtive a cura. Minha esposa pediu a Padre Victor que me curasse e eu
alcancei essa graça. Estamos aqui para agradecer por esse milagre”, contou o
agricultor. Segundo Vilma Santos, além dos feitos do agora beato, ele já é um
exemplo por ter conseguido se destacar numa época em que os negros eram
excluídos. “Ele é um herói, um servo de Deus. Viveu preconceitos e os superou”,
completou. A fé em Padre Victor também trouxe a Três Pontas Maria Aparecida
Mira, de 67 anos, que mora em Cristina, também no Território Sul. “Sou católica
e tenho muita fé em Padre Victor. Ele sempre está em minhas orações. É muito
importante termos mais um beato mineiro”, ressaltou. Dom Frei Diamantino Prata
de Carvalho ressaltou em entrevista à imprensa que o mais importante nessas
décadas de espera até a aprovação da beatificação foi a união e o trabalho das
pessoas em torno da causa. “Eu poderia citar o poeta Fernando Pessoa que diz
‘tudo vale a pena quando a alma não é pequena’. O que importa é que nesses anos
todos trabalharam com dedicação”, destacou, emocionado por ter podido
participar desse momento histórico. Também acompanharam a cerimônia os
secretários de Estado de Turismo, Mário Henrique Caixa, e de Cultura, Ângelo
Oswaldo, além de lideranças políticas e religiosas da região. História -
Padre Victor nasceu em Campanha no dia 12 de abril de 1827, filho da escrava
Lourença Maria de Jesus. Em junho de 1849 foi aceito como seminarista em
Mariana, algo incomum na época para jovens negros e escravos. Chegou a Três
Pontas em 1852 e paroquiou por lá durante 53 anos, onde foi muito admirado e
querido pela população por seu trabalho em defesa dos pobres e doentes. O agora
beato faleceu no dia 23 de setembro de 1905. Ficou insepulto três dias e,
segundo relatos, seu corpo exalava perfume. Uma procissão foi feita pelas ruas
de Três Pontas durante o seu sepultamento, que reuniu um grande número de
pessoas. Os restos mortais de Padre Victor estão no sarcógrafo da Matriz
D’Ajuda. Beatificação - A beatificação é uma permissão de culto da Igreja
Católica a uma pessoa considerada santa. A partir disso, ela pode interceder
pelas outras pessoas. O processo de Padre Victor foi aberto em 1993. O primeiro
passo foi encontrar documento que comprovaram a existência do padre, depois
começaram a reunir relatos sobre suas histórias. Outra etapa foi a
exumação do corpo. Após isso, uma comissão, em Roma, passou a analisar a
história do futuro beato e buscar pelo milagre, reconhecido em junho de 2015.
Para que seja canonizado, é preciso que um novo milagre seja reconhecido pelo
Vaticano. Assim, Padre Victor poderá ser cultuado em todo o mundo. A partir de
agora, Padre Victor é o segundo beato do Sul de Minas. Em 2013, Francisca de
Paula de Jesus, a Nhá Chica, foi beatificada em Baependi. - Secom
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