A estiagem, que deu pouca
trégua aos canaviais do Centro-Sul neste ano, quebrou a produtividade da cana,
mas elevou o teor de açúcar (o chamado ATR) na matéria-prima. A condição amplia
a divergência do mercado sobre o tamanho da produção de açúcar na região neste
ciclo 2014/15. Isso porque a moagem está acelerada e a cana que está sendo
colhida apresenta níveis altos de ATR, o que diminui a flexibilidade das
usinas. O resultado é que, mesmo querendo fazer mais etanol, são 'obrigadas' a
fabricar mais açúcar. Essa constatação balizou
a revisão feita ontem pela consultoria FG Agro, que reduziu a estimativa de
moagem de cana no Centro-Sul, mas elevou a projeção para a produção de açúcar.
O novo número é de 33,4 milhões de toneladas, 1,8% acima das 32,8 milhões de
toneladas de açúcar estimadas em março. Para a moagem de cana, a consultoria
reduziu para 577 milhões a previsão inicial de 592 milhões de toneladas.
Há, no entanto, uma ressalva, diz o sócio da
consultoria, com sede em Ribeirão Preto (SP), Willian Hernandes. "Se as
usinas resolverem daqui em diante desacelerar o ritmo de moagem, o mix para
açúcar pode recuar e a produção ir a 32,5 milhões de toneladas".
Hernandes explica que para manter sua previsão
de oferta de cana no patamar superior a 570 milhões de toneladas - enquanto boa
parte do mercado considera que a safra ficará entre 550 milhões e 560 milhões
-, a FG Agro considerou uma área de expansão de cana de 4,5%, entre janeiro e
março de 2013, que está se refletindo na área de corte deste ciclo 2014/15.
"As usinas que compõem a nossa amostra
aumentaram área em 12% no período. Mesmo considerando que todo o restante do
setor não expandiu nada, a taxa média fica em 4,5%", explica. Houve ainda,
diz, uma menor área de reforma de canavial, o que naturalmente aumentou a cana
disponível para corte. Já a
trading britânica Czarnikow revisou para baixo sua estimativa para a produção
de açúcar na região. Na visão da trading, a produção será de 31,7 milhões de
toneladas, queda de 4,5% em relação às 33,2 milhões previstas em abril.
Em um levantamento de campo que percorreu cerca
de 2 mil quilômetros de canaviais em quatro Estados - São Paulo, Minas Gerais,
Paraná e Goiás -, a Czarnikow identificou que a seca não atingiu todas as
regiões de forma homogênea, explica a gerente de análise de mercado da trading,
Ana Carolina Ferraz. Ela afirma que as mais prejudicadas foram Piracicaba e
Araçatuba, ambas em São Paulo, e o sudoeste de Minas Gerais, onde há indicação
de queda de até 30% na produtividade. A previsão da Czarnikow, lembra Ana Carolina, considera um clima
"normal" daqui em diante, ou seja, sem El Niño, que anteciparia
chuvas, atrapalhando a moagem. "A cada dia de chuva, perde-se moagem de 3
milhões de toneladas. Além disso, segundo ela, se chover daqui em diante, pode
haver um efeito ainda mais prejudicial à cana, na medida que tende a reduzir o
ATR – Ascom.
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