Cotação da carne no período de pastagens escassas
compensa investimentos
BELO
HORIZONTE (31/7/2013) – Iniciada em junho, segue até novembro a entressafra do
boi em Minas, mas a engorda de animais em confinamento neste período de
pastagens escassas é um meio eficaz de garantir o abastecimento de carne.
Segundo a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), o
sistema deve ser adotado inclusive pelos pequenos produtores, que poderão
melhorar a receita da propriedade principalmente com as vendas do segundo
semestre. Bruno de Barros Ribeiro de Oliveira, coordenador do Minas Carne –
programa criado pela Seapa –, explica que o confinamento consiste na manutenção
dos animais em instalações próprias, recebendo alimentação exclusivamente nos
cochos e tratamento especial. “Até o final do ano, o volume de bovinos confinados
nas propriedades mineiras deve alcançar 350 mil animais”, ele diz, com base em
levantamento realizado pela Emater-MG, vinculada à Secretaria. O coordenador
diz que o produtor pode contar com bons resultados principalmente no segundo
semestre. “Um levantamento da Esalq/BMV&FBovespa mostra que a cotação da
arroba do boi no acumulado de junho a novembro de 2012 alcançou variação
positiva de 5,2%, pois o valor da arroba alcançou R$ 97,50. No período atual,
os produtores registraram, já em junho, vendas de boi por R$ 99,01 a arroba, em
média.” Além de garantir o atendimento à demanda dos frigoríficos no período
mais crítico das pastagens, o confinamento possibilita a produção de carne de
excelente qualidade durante o ano inteiro, assinala Bruno Barros. Já o
coordenador estadual de Bovinocultura de Corte da Emater, José Alberto de Ávila
Pires, destaca que “o confinamento possibilita a agregação de valor à carne e a
antecipação da venda dos animais. “Além disso, quando o pecuarista adere ao
confinamento, os bovinos para engorda
são retirados do pasto, o que facilita o
manejo dos animais”, acrescenta. Ao
reforçar a indicação da engorda de bois em confinamento para os pequenos
pecuaristas, José Alberto cita o exemplo de grandes projetos que começaram com
pequenos lotes de animais. “O sistema é uma boa iniciativa inclusive nas áreas
não beneficiadas pela proximidade das lavouras de grãos, como o Norte de Minas.
A tecnologia, segundo o coordenador, é chamada de "grão inteiro",
porque predomina o uso integral do milho, além de uma parte de concentrado na
engorda dos bovinos. “Nestes casos o produtor não tem gasto com o volumoso
(cana-de-açúcar e silagens de milho e de sorgo). “Apesar do custo do transporte
de milho de regiões que apresentam grande produção, como o Alto Paranaíba, o investimento
compensa”, assinala. Quinto do ranking - O trabalho dos extensionistas da
Emater para mostrar as vantagens da engorda de bois por meio do confinamento
contribui para o aumento das adesões ao sistema, diz José Alberto e informa que Minas ocupa atualmente a quinta
posição entre os Estados que engordam o boi fechado e respondem por cerca de 3
milhões de cabeças incluídas no sistema. Os primeiros colocados são Mato
Grosso, São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul.” Minas conta com 63 produtores
com até cinco mil animais confinados cada um, que respondem pela engorda de 190
mil cabeças. Há também 658 pecuaristas com até mil cabeças em confinamento e o
volume total desse grupo é de 146,4 mil animais. “A produção anual de carne do
conjunto dos confinadores do Estado é da ordem de 80 mil toneladas, volume que
atende ao abastecimento de cerca de 6,7 milhões de pessoas nos quatro meses da
entressafra do boi”, principalmente de agosto a novembro, diz José Alberto. Substituto
da estocagem. De acordo com José Alberto, as unidades de confinamento desenvolvidas
em Minas têm mostrado grande eficiência na produção contínua de animais para
abate, o que possibilita redução da ociosidade da indústria de carnes –
frigoríficos e a rede de distribuição (açougues e casas de carne). “Adotado no
Brasil a partir de 1986, o sistema substitui a estocagem de carne congelada,
que o governo utilizava com o objetivo de atender à demanda na entressafra do
boi. Mas diversos produtores mantêm a engorda por confinamento durante o ano
inteiro.” Paulo Roberto do Nascimento
iniciou, há cerca de 30 anos (com 40 bois), um projeto de confinamento em
Capinópolis, no Triângulo Mineiro. “Atualmente, a propriedade registra um
volume permanente de 12,5 mil cabeças, de janeiro a dezembro”, explica o
pecuarista. No período das águas, entre outubro e novembro, a movimentação com
os animais cai um pouco, devido às chuvas, acrescenta Paulo Roberto, “mas isso
não prejudica o atendimento à demanda porque, na fase de entressafra bovina, a
introdução de gado na área do confinamento é alta. O volume de animais
encaminhados para abate em 2013, depois de passar pela propriedade, deve
alcançar 30 mil cabeças.” Vale o investimento na aquisição de bois de
qualidade, ração e manejo apropriados, porque toda a produção da unidade de
confinamento de Paulo Roberto é dirigida a um frigorífico credenciado a
exportar para a União Europeia, com direito a um adicional por arroba vendida.
O bônus é concedido aos produtores que possuem rastreabilidade creditada pelo
Sisbov (serviço do Ministério da Agricultura, utilizado para a identificação e
o controle do rebanho de bovinos e bubalinos do território nacional, bem como o
rastreamento do processo produtivo no âmbito das propriedades rurais). O
pecuarista diz que seu projeto de confinamento é favorecido principalmente pela
localização em região produtora de grande volume de grãos. “As lavouras
garantem uma boa oferta de milho para silagem e se encontram a distâncias que
possibilitam o frete a custos acessíveis até a unidade de confinamento.
Contamos também, na região, com uma grande oferta de sorgo, farelo de amendoim
e de algodão”, acrescenta. O Triângulo
Mineiro responde por 17,6% da safra de milho, ou 1,4 milhão de toneladas,
segundo o IBGE. A produção de soja na região equivale a 35,1% do total de
Minas, ou 1,2 milhão de toneladas. E a safra de sorgo corresponde a 46% da
produção estadual, ou 207 mil toneladas. Segundo Paulo Roberto, a engorda por
confinamento é indicada também para os pecuaristas que não contam com as
facilidades oferecidas aos produtores da região. “O sistema sempre dá bons
resultados”, finaliza.
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