Quando se fala em doação de órgãos, Santa Catarina é
destaque nacional. O Estado detém o primeiro lugar no ranking de doações no
Brasil, com 30,6 doadores efetivos por milhão de população (pmp) no primeiro
semestre deste ano. Assunto que é lembrado entre os dias 21 e 27 deste mês,
durante a Semana de Esclarecimento e Incentivo à Doação de Órgãos e Tecidos. A
data foi instituída na semana que antecede o Dia Nacional da Doação de Órgãos –
27 de setembro, data estabelecida pela Lei 11.584, de 2007. De janeiro a junho
de 2015, as equipes da SC Transplantes, vinculada à Secretaria de Estado da
Saúde (SES), registraram 103 doações - 11 a mais do que no mesmo período do ano
passado. Nos primeiros seis meses do ano, foram realizados 628 transplantes de
órgãos e tecidos no Estado. “O segundo semestre tende a ser ainda melhor que o
primeiro. Esperamos um novo recorde até o final deste ano”, observa Joel de
Andrade, coordenador estadual do serviço. Beneficiado por um transplante de
fígado em julho de 2015, Gilberto Tinn, 50 anos, recebeu o órgão apenas 22
dias depois de ter entrado na fila de espera. Hoje, um ano e sete meses após
ser diagnosticado com um tumor, o torneiro mecânico confessa que teve medo de
nunca mais passear com a filha Iasmim, de 5 anos. “É uma batalha muito difícil.
Não dá para imaginar minha alegria quando recebi a notícia que a equipe de
transplantes estava me esperando”, relata Tinn. O morador de Santo Amaro da
Imperatriz, assim como todos os transplantados, não conhece a família que
autorizou a doação do fígado. “Eu não sei quem eles são, mas o gesto dessa
família salvou a minha vida, sem sombra de dúvida. Eu tenho muito que
agradecer”, diz Tinn, após o sucesso da cirurgia. Capacitação constante
- A preparação contínua dos profissionais que atuam na captação de
órgãos é fundamental para o sucesso dos transplantes e dos bons números de SC.
De acordo com Joel de Andrade, o diferencial da SC Transplantes são as técnicas
desenvolvidas para melhor acolher as famílias que perdem seus entes queridos.
Atualmente, mais de 600 profissionais de urgência do Estado, entre médicos,
enfermeiros, psicólogos e outros, são treinados para abordar familiares,
comunicar a morte e sugerir a doação. Empresário do município de
Biguaçu, Jócio Nicodemos Martins foi abordado por uma dessas equipes
depois de receber a notícia da morte cerebral de seu filho Tiago, de 20 anos. O
jovem sofreu uma queda de skate e bateu a cabeça, em dezembro de 2012. A doação
dos órgãos do estudante universitário salvou oito vidas. “A família nunca tinha
falado a respeito. Mas depois de uma conversa com o doutor Joel e sua equipe,
resolvemos autorizar a doação”, relatou o pai. A decisão é dificultada pela
perda de um ente querido, mas o empresário lembra que também deve ser difícil
esperar por um transplante. “Alguém parou de sofrer e hoje está mais feliz por
causa da doações dos órgãos do meu filho”, observa Martins. Quem pode
doar- Todas as pessoas podem doar órgãos e tecidos. Não é necessário
deixar nada por escrito, basta comunicar sua família sobre o desejo da doação.
A doação de órgãos só acontece após autorização familiar. SC Transplantes
-A estrutura da SC Transplantes foi elaborada com base no modelo de
doação utilizado na Espanha. Além da coordenadoria, existem grupos nas unidades
hospitalares. “Esses grupos são compostos por profissionais do próprio hospital
que trabalham na identificação de potenciais doadores, no apoio do diagnóstico
de morte encefálica e nas entrevistas com os familiares”, explica Andrade. Como
é o processo de doação de órgãos -1. Detecção do potencial doador
consistente com morte encefálica ou cardíaca; 2. Manutenção clínica do
potencial doador (é administrado soro e remédios para os órgãos continuarem
funcionando e terem condições de serem transplantados); 3. É feita a
comunicação de morte aos familiares; 4. Após duas horas é realizada a
entrevista com as famílias do paciente que não tem contraindicação; 5. Com
o consentimento da família, são iniciados os exames e o planejamento de remoção
dos órgãos; 6. Após a retirada dos órgãos, inicia-se a logística de
transporte. Para Joel de Andrade, coordenador da SC Transplantes, a
logística de transporte após a retirada dos órgãos é uma das etapas mais
importantes, pois quanto mais jovens os doadores, mais complexa é a estrutura
devido ao potencial de utilização dos órgãos. “Para isso, temos à disposição
aeronaves da Polícia Militar e Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros, Samu, táxi
aéreo e voos comerciais, de acordo com a disponibilidade no momento”, destaca o
médico. No caso de mais de um órgão a ser doado, a logística é ainda
maior, pois, na maioria dos casos, os receptores residem fora de Santa
Catarina. Nessas situações, a responsabilidade da logística passa a ser do
Estado onde reside o paciente que receberá o órgão. Todo o processo movimenta
uma equipe composta por 45 pessoas e dura, em média, entre oito e 12 horas, com
exceção de órgãos como o coração e o pulmão, que precisam ser transplantados
rapidamente, não podendo ultrapassar o tempo de quatro horas. - Secom
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