Mesmo com a queda nos preços da soja em grão no
segundo semestre de 2016, a rentabilidade da oleaginosa para a safra 2016/17
ainda está competitiva em relação a outras culturas concorrentes em área, como
milho e algodão, segundo pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada), da Esalq/USP. Nesse contexto, a produção brasileira deve
ser recorde em 2017. No cenário global, com quase 122 milhões de
hectares cultivados, a oferta mundial da safra 2016/17 também deve atingir
recorde, de 338 milhões de toneladas, impulsionada pelas produções do Estados
Unidos, do Brasil e, até mesmo, da Índia, segundo indicam dados do USDA. A demanda global também segue firme, o que deve favorecer o oitavo
crescimento consecutivo das transações entre países. No
entanto, como os estoques são abundantes e a relação estoque final/consumo
segue aumentando, no médio prazo, as cotações em dólar não apontam sinais de
reação. O clima contribuiu para a maior oferta dos Estados Unidos (+11,1%, para
118,7 milhões de toneladas) e está favorecendo o desenvolvimento das lavouras
no Brasil, que pode produzir 102 milhões de toneladas (+5,7%). A produção também deve crescer na China (6,1%), na Índia
(expressivos 61,4%), no Paraguai (1,9%) e no Canadá (1,2%). Já na
Argentina, a produção deve se manter estável, mas ainda há incertezas sobre a
área, visto que o clima vem dificultando a finalização do cultivo da atual
temporada. O lado positivo é que o processamento mundial em 2016/17 também está
em crescimento, podendo chegar ao recorde de 289,4 milhões de toneladas
(+4,7%). Os esmagamentos da China, Estados Unidos e
Índia são os destaques no período. Já as transações externas de soja em grão
devem crescer um pouco menos (+3%) que a oferta e que o processamento em
2016/17. A União Europeia, Japão e Tailândia limitam o
crescimento, visto que devem demandar menos na temporada 2016/17. Quanto aos
derivados, os consumos de farelo e de óleo de soja estão em crescimento em
praticamente todos os grandes demandantes mundiais. No
caso das transações externas, enquanto as do farelo seguem em alta, também
puxadas pelo consumo dos grandes países demandantes, as do óleo estão em queda.
A concorrência com outros óleos vegetais tem limitado as transações
mundiais de óleo de soja – no Brasil, boa parte deste derivado segue direcionado
à produção de biodiesel. Entre soja em grão e derivados, mais de 2/3 da
produção mundial é transacionada entre países. O Brasil
deve manter a posição de maior exportador de soja em grão e a Argentina, de
derivados. A China segue como a grande compradora de soja
em grão, a União Europeia, de farelo e a Índia, de óleo. Quanto aos custos de
produção, dados da equipe Custos Agrícolas do Cepea apontam que,
considerando-se a compra de todos os insumos a preços de novembro/16 e a venda
de toda a produção no mesmo mês, mantendo-se a tecnologia adotada na safra
2015/16, a rentabilidade média dos produtores de soja sobre o custo total seria
de 9,6% na temporada 2016/17. Em novembro de 2015, era
de 6,3%. Para esse cálculo, foram considerados os custos
e receitas das regiões de Carazinho (RS), Londrina (PR), Cascavel (PR),
Dourados (MS), Rio Verde (GO), Sorriso (MT), Primavera do Leste (MT), Uberaba
(MG) e Barreiras (BA). Alguns dados são importantes para se comparar os
resultados da safra 2015/16 e as expectativas de preços para a 2016/17. Em dezembro de 2015, o contrato Mar/16 negociado na Bolsa de Chicago
(CME Group) teve média de US$ 19,48/sc de 60 kg, enquanto o valor FOB Paranaguá
(PR) para embarque em março/16 teve média de US$ 20,00/sc de 60 kg. Em
março/16, período de colheita no Brasil, o contrato Mar/16 fechou a US$
19,23/sc de 60 kg, enquanto o valor FOB Paranaguá, ainda para embarque em
março/16, teve média de US$ 19,69/sc de 60 kg, respectivas quedas de 1,3% e
1,5%. Para a safra 2016/17, em dezembro/16, o contrato Mar/17 na CME foi
negociado a US$ 22,74/sc de 60 kg e, no Brasil, o FOB em Paranaguá, para
embarque em março/17, a US$ 23,81/sc de 60 kg. Neste
mês de janeiro, o dólar, contudo, está sendo negociado na BM&FBovespa a
patamares 20% menores que os do mesmo mês de 2016. Além
disso, na quinta-feira, 5, o contrato Mar/17 do dólar teve média de R$ 3,25 e,
para meados deste ano, de R$ 3,35. Esse cenário indica que, produtores que
negociaram antecipadamente, especialmente até julho de 2016 e também em
novembro e começo de dezembro, podem ter tido as melhores oportunidades. Em
Reais, os negócios comercializados em meados de dezembro/16 para entrega em
março/17 estavam próximos a R$ 81,90/sc de 60 kg, enquanto na última semana de
dezembro o mesmo contrato estava sendo ofertado a R$ 78,00/sc de 60 kg, queda
de 4,8% dentro do mesmo mês. Por outro lado, uma parcela dos sojicultores ainda
está atenta aos baixos estoques das indústrias brasileiras, que já estavam
reduzidos no início do segundo semestre de 2016, cenário que limitou o
processamento do grão – esmagadoras alegavam margens reduzidas. O retorno das indústrias ao mercado e a maior demanda por parte de
tradings, para completar cargas devido à baixa aquisição antecipada, poderão
aumentar a liquidez no mercado brasileiro entre o final de janeiro e fevereiro.
De qualquer forma, os contratos futuros de soja em grão e derivados na Bolsa de
Chicago (CME Group) e os valores FOB portos brasileiros não apontam sinais de
alterações no médio prazo. Para o Brasil, o que pode alterar os valores é
o dólar – Secom.
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