Para o controle de qualidade de alimentos há
especificações técnicas. Entre elas existem os níveis toleráveis. Aqui no
Brasil a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) possui o papel de
regular e fiscalizar a qualidade dos alimentos comercializados. Há uma
Resolução da Diretoria Colegiada, precisamente a RDC 14, de 28 de março de
2014, que estabelece as disposições gerais para avaliar a presença de matérias
estranhas macroscópicas e microscópicas, que possam indicar riscos à saúde
humana e/ou as indicativas de falhas na aplicação das boas práticas na cadeia
produtiva de alimentos e bebidas, e fixar seus limites de tolerância. Estes são
as quantidade admitidas de matérias estranhas no alimento. Elas podem varias de
fragmentos de insetos a pelos de roedores. Nestes últimos tempos houve algumas
autuações de produtos alimentícios processados que apresentaram níveis acima
dos permitidos e foram amplamente divulgados pela mídia. Com isto, muitos
consumidores indagaram sobre a possibilidade de aceitarmos estes fragmentos.
Para eles, não se deveria existir nenhuma contaminação. Este pensamento é
bastante simplista e demostra o distanciamento que há, dos habitantes das
cidades, com as práticas realizadas no campo. Impossível não existir um inseto
em uma plantação, o campo é o habitat natural deles, que fazem parte do
ecossistema e muitos tem funções específicas e necessárias para um equilíbrio
do ambiente. Outro questionamento: mas porque não se retiram todos os
fragmentos e pelos no processamento? De fato, em alguns alimentos isto é feito
com mais facilidade. As mangas passam por lavagens em água quente e controlada,
quando nos referimos a processos adequados de pós-colheita. Mas, aplicar tal
técnica a framboesa ou amora seria viável? Estas frutas, bastantes sensíveis,
provavelmente se despedaçariam, tornando inviável seu consumo num maravilhoso
cheesecake, por exemplo. No entanto, há meios de se mitigar estes problemas. Já
conhecidas são as boas práticas agropecuárias. Elas são um conjunto de
procedimentos que estabelecem as ações necessárias para que os produtos
agropecuários estejam dentro de critérios de sanidade e qualidade, além da
garantia de características organolépticas (cor, sabor, odor e textura). Na
indústria pouco se pode melhorar a matéria prima. Há processos, como a
pasteurização, que destroem quase todos os microrganismos. Esta ferramenta é
imperativa em lácteos e muitos sucos de frutas, o que amplia o tempo de vida
útil do alimento e garante a inocuidade. Por outro lado, difícil é separar as matérias
estranhas de muitos produtos, como os fragmentos de insetos e pelos. Assim, o
emprego das Boas Práticas Agrícolas são necessárias. Estas que iriam diminuir a
contaminação, permitindo uma melhor qualidade da matéria prima para a indústria
de alimentos. Mas, infelizmente, estas práticas não estão disseminadas e nem
são valorizadas pelo consumidor. Mercados mais exigentes, como a Itália, e suas
maravilhosas compotas, exigem que as propriedades sejam certificadas, no
processo de produção integrada, que possui como base as boas práticas
agropecuárias. Praticamente não se adentra na indústria matéria-prima não
rastreada, que não garanta a qualidade na produção. Este processo pode ser
visualizado nas embalagens, que contém um selo, identificando o produto de qualidade
ao consumidor. A produção integrada exige que os controles sejam realizados e
os procedimentos especificados, para cultura ou espécie, sejam realizados
sistematicamente. Há documentação que comprove a realização das atividades.
Assim, controles de roedores são executados, de modo a mitigar a contaminação
dos alimentos durante a produção. Do mesmo modo, controle de pragas e
substâncias indesejadas, como resíduos de agroquímicos, medicamentos ou
contaminações microbiológicas. As ações de controle são realizadas seguindo as
prescrições agronômicas ou veterinárias. Uso de medicamentos ou agroquímicos
são necessários, mas de forma racional, cumprindo os períodos especificados de
intervalo de segurança e proporcionando ao consumidor um produto saudável e de
sabor desejado, além de ótima aparência. Aliás, lendo algumas matérias na
internet me deparei com novos produtos, alguns suplementos alimentares que
estão sendo consumidos pelos praticantes de musculação: são feitos à base de
insetos. Pode-se adquirir por $ 40,00, 200g de Cricket Protein em pó. Eles
garantem 100% de grilos na farinha, que pode ser misturada aos alimentos,
fornecendo grande quantidade de proteína. No mesmo site, há grilos assados
inteiros, ou escorpiões torrados, eles podem vir temperados também. Pelos
sites, parece ser um mercado promissor. Mais preocupante que fragmentos de
insetos ou pelos de roedores, que podem ser nojentos, mas dentro das
especificações legais da RDC citada, de modo geral são inócuos ao ser humano, o
consumidor deveria se preocupar com outras contaminações, principalmente
microbiológicas, que podem causar sérias enfermidades. Consumir leite sem
procedência, que não tenha o tratamento industrial adequado ainda é um grande
problema de saúde pública. Estima-se que 8% dos casos de tuberculose humana, no
Brasil, ainda sejam de transmissão vertical, normalmente oriundos de leite e
seus derivados, provenientes de animais doentes. Aquele queijinho colonial,
feito de leite cru, comprado nas estradas pode significar muito mais problemas
que os 10 fragmentos de insetos, naqueles 100g chocolate, que pode vir de
brinde também um pelo de roedor, mas que passou por um processamento, com
aumento de temperatura, que matou todos os microrganismos patogênicos que
poderiam estar presentes. Sobre o CCAS - O Conselho Científico Agro Sustentável
(CCAS) é uma organização da Sociedade Civil, criada em 15 de abril de 2011, com
domicilio, sede e foro no município de São Paulo-SP, com o objetivo precípuo de
discutir temas relacionados à sustentabilidade da agricultura e se posicionar,
de maneira clara, sobre o assunto. O CCAS é uma entidade privada, de natureza
associativa, sem fins econômicos, pautando suas ações na imparcialidade, ética
e transparência, sempre valorizando o conhecimento científico. Os associados do
CCAS são profissionais de diferentes formações e áreas de atuação, tanto na
área pública quanto privada, que comungam o objetivo comum de pugnar pela
sustentabilidade da agricultura brasileira. São profissionais que se destacam
por suas atividades técnico-científicas e que se dispõem a apresentar fatos
concretos, lastreados em verdades científicas, para comprovar a
sustentabilidade das atividades agrícolas. A agricultura, apesar da sua
importância fundamental para o país e para cada cidadão, tem sua reputação e
imagem em construção, alternando percepções positivas e negativas, não
condizentes com a realidade. É preciso que professores, pesquisadores e
especialistas no tema apresentem e discutam suas teses, estudos e opiniões,
para melhor informação da sociedade. É importante que todo o conhecimento
acumulado nas Universidades e Instituições de Pesquisa seja colocado à
disposição da população, para que a realidade da agricultura, em especial seu
caráter de sustentabilidade, transpareça. Mais informações no website: http://agriculturasustentavel.org.br/. Acompanhe também o CCAS no
Facebook: http://www.facebook.com/agriculturasustentavel. – Secom
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