Caminhando pela capital gaúcha, turista terá contato com o que há de melhor na cidade: a identidade cultural, a riqueza histórica e a visão cosmopolita que a tornam peculiar
Brasília, DF (30/12/2011) – Para amar Porto Alegre, o turista precisa de muito, mas muito pouco. A alma da capital gaúcha é facilmente reconhecida nas ruas, nas suas joias arquitetônicas, nos 1,3 milhões de verdes árvores que dão vida e cor à cidade. Mas a grande e verdadeira passarela da cultura gaúcha está aberta todos os domingos, no mesmo endereço: é o Parque da Redenção, ou Parque Farroupilha. Visitar a Redenção, que fica no coração da cidade, significa experimentar todas as faces de Porto Alegre de uma só vez. Não é só o comércio mais popular e querido da cidade, um parque charmoso, um palco democrático de arte, uma feira livre, um corredor de “mateada” ou um túnel do tempo para encontrar todo e qualquer tipo de antiguidades, móveis, artesanato e achados comerciais de toda a sorte. Para os gaúchos, a “Redenção” é uma espécie de santuário. O chimarrão é a própria religião. Ostentando camisas azuis e vermelhas, colorados e gremistas honram seus mantos esportivos sagrados e disputam a benção dos quase 70 mil caminhantes que transitam a cada fim de semana pelo parque instalado no polígono “verde” formado por cinco avenidas bastante movimentadas. Saindo do parque, a parada obrigatória é para o churrasco. Domingo sem churrasco, aliás, só existe fora do Rio Grande do Sul. Há diversos lugares para experimentar uma suculenta e legítima picanha gaúcha por ali mesmo, ao longo da avenida Osvaldo Aranha, uma das vias que rodeiam o tradicional ponto turístico. Se o passeio não for no domingo, crie um pretexto para iniciar a caminhada turística pelo churrasco na Osvaldo Aranha. Quem parte dali, vai encontrar, rapidamente, o Museu da UFRGS. Abrigado em um histórico casarão dentro do campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, conta a história do estado gaúcho em acervo iconográfico de 10 mil imagens e recursos multimídia. Exposições científicas, tecnológicas, artísticas e culturais estão entre os pontos fortes da programação. A um passo dali, na Praça Argentina, está o Observatório Astronômico da UFRGS, que também merece uma visitinha para matar a curiosidade. Com mais 10 minutinhos de caminhada até o final da Osvaldo Aranha, suba pela rua Duque de Caxias e reserve um tempo para uma visita ao Palácio Piratini, prédio-sede do governo do estado decorado com esculturas, lustres de cristal, quadros, vitrais e anjos banhados a ouro, todos vindos da França. No Centro Histórico da capital ficam também a Catedral Metropolitana, o Theatro São Pedro e o Museu Júlio de Castilhos, o quinto mais antigo do país. Quem entra neste casarão do tempo aceita o convite para viajar pela memória política e social rio-grandense. Na exposição permanente, uma sala abriga objetos que contam uma parte da trajetória do estadista gaúcho que dá nome ao museu. Júlio de Castilhos redigiu o projeto da constituição estadual, que ganhou fama por adotar os princípios positivistas do filósofo francês Augusto Comte. Objetos pessoais, armas e fardamentos do líder farroupilha Bento Gonçalves também estão entre os destaques da mostra. A arte missioneira e a história do projeto de evangelização dos jesuítas, além de instrumentos de tortura usados no período da escravatura, completam o acervo principal. Saindo deste banho de história e cultura gaúcha, vire à esquerda pela mesma rua, siga até o final do quarteirão e vire à direita para chegar à Rua dos Andradas, a chamada “Rua da praia”, onde nasceu Porto Alegre. A menção à praia, neste caso, diz respeito à proximidade com a orla do lago Guaíba (sim, o Guaíba é um lago, e não um rio!). O crescimento da cidade provocou aterramentos que fizeram esta rua distanciar-se da margem do lago. Mas ela não perdeu o nome, tampouco o encanto. A rua congrega pontos turísticos importantes, como o MARGS, Museu de Arte do Rio Grande do Sul, que fica bem próximo à Casa de Cultura Mário Quintana. A casa centenária foi, por 12 anos, a morada do “poeta das coisas simples”, e hoje é um dos espaços culturais mais adorados pelos gaúchos, com bibliotecas, teatros, salas de leitura, galerias, oficinas de arte e o ilustre Café Concerto, no 7º andar. Lá dentro permanecem vivas as lembranças de uma importante fase da literatura rio-grandense. A alguns passos dali, a rua da praia reserva um espaço para o êxtase literário: o imperdível Centro de Cultura Érico Veríssimo. Paralela à rua dos Andradas está a Avenida Mauá, obrigatória em qualquer roteiro turístico. Você acaba de chegar à orla do Guaíba - onde estão a Usina do Gasômetro, a Fundação Iberê Camargo, o Anfiteatro Pôr-do-Sol e o Cais do Porto, verdadeira “janela da alma” da cidade. A antiga usina movida a carvão transformou-se num verdadeiro caldeirão de arte e cultura, e sua silhueta, com alta chaminé no crepúsculo dourado à beira do Guaíba, é certamente um dos mais lindos e formosos cartões postais da cidade. Exposições como a Feira do Livro de Porto Alegre - maior festival literário a céu aberto da América Latina -, a Bienal do Mercosul - reúne meio milhão de pessoas a cada edição, consolidando-se como referência internacional nas artes visuais -, exposições de cinema, além de mostras de teatro, cinema, música e arte têm lugar garantido nos armazéns do porto, cravados neste lugar que é menina-dos-olhos de turistas e portoalegrenses. Por ali também dá para conhecer a coleção de mais de 4 mil obras de Iberê Camargo, gravurista, desenhista e pintor brasileiro considerado um dos grandes nomes do movimento de arte moderna/contemporânea. No estado onde modernidade e regionalismo convivem harmoniosamente, Centros de Tradições Gaúchas (CTGs) continuam atraindo multidões que se reúnem para tocar gaita, dançar a chula ou declamar poesias. Mas para festejar o lado cosmopolita da cidade, encerre o passeio apreciando o pôr-do-sol no Guaíba e trocando o churrasco pela comida mediterrânea. Contraditório? Jamais. Porto Alegre é isso: raízes na cultura da terra, antenas no mundo.
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