quinta-feira, 4 de setembro de 2014

DIVIDIDO, AGRONEGÓCIO BUSCA COMPROMISSOS DE PRESIDENCIÁVEIS

Sob os holofotes desde o início da atual campanha presidencial, o agronegócio está conseguindo capitalizar como nenhum outro a disputa por seu apoio criada pelos principais candidatos ao Planalto. E a cada visita de Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) ou Aécio Neves (PSDB) a um dos diversos eventos agropecuários realizados nos polos de produção do país, ou a cada encontro de um dos três com as lideranças rurais do Sul-Sudeste ou do Centro-Norte, o Brasil redescobre um dos setores mais importantes de sua economia e se familiariza com suas demandas. Engana-se quem pensa, entretanto, que o agronegócio é um só ou que suas necessidades respeitem uma lógica uniforme. Há denominadores comuns, normalmente ligados a questões macroeconômicas que independem dos rumos do campo em si. É o caso do câmbio, que une as cadeias exportadoras - por mais que grande parte de insumos como adubos e defensivos sejam importados - e do crédito a juros subsidiados, abraçado por produtores em geral. Ou do chamado "custo Brasil". Mas os grandes produtores de grãos de Mato Grosso e as tradings que comercializam suas safras estão muito mais preocupados com áreas de expansão de suas lavouras e com as obras que permitirão o escoamento de suas exportações pelo Norte do que com a política de combustíveis que tira a competitividade do etanol das usinas sucroalcooleiras de São Paulo. Da mesma forma que os pecuaristas do Pará seguem mais atentos a novas regras de sustentabilidade do que à política de preços mínimos que afeta os arrozeiros gaúchos. Nesse contexto, é impossível afirmar que o "agronegócio" apoia um ou outro candidato, por mais que a maior parte do setor esteja, aparentemente, descontente com o governo Dilma. A presidente conta com o apoio da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), ex-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com sede em Brasília, e de alguns grandes produtores de grãos do Centro-Oeste como Eraí Maggi, satisfeitos com o desempenho de seus negócios nos últimos anos e com alguns avanços logísticos que beneficiaram a região. Mas a impressão geral de sua gestão talvez nunca tenha sido tão ruim como é hoje. Pesquisa recente feita pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) e pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) aponta que 74% dos entrevistados (645 produtores rurais e 40 empresas de insumos) não acreditam que o governo valorize o setor agropecuário. Desse universo, 69% não acham que Brasília esteja se esforçando para melhorar os mecanismos de comercialização das safras agrícolas e da produção pecuária e 68% discordam que o Planalto esteja de fato empenhado em investir em infraestrutura logística para o escoamento dessa oferta. Enquanto aparecia nas pesquisas como o único candidato com chances de frustrar os planos de reeleição de Dilma, Aécio conseguiu surfar nesse descontentamento. Assessorado por lideranças rurais como Roberto Rodrigues, que foi ministro da Agricultura no primeiro mandato de Lula, fortalecido por consultores como o economista José Roberto Mendonça de Barros e inflamado pela crise do etanol, o tucano, mesmo sem empolgar o agronegócio, tornou-se a primeira opção de boa parte dele. Mas Eduardo Campos morreu e Marina, escolhida a candidata do PSB, mostrou, segundo as pesquisas de intenção de voto, que é ela quem tem mais chances de derrotar Dilma, o que abalou as estruturas do apoio rural que Aécio começava a amalgamar. "Você viu a Marina, que maravilha?", perguntou a um amigo uma liderança do setor em almoço na semana passada na capital paulista. "Pois é, agora a Dilma não resiste", respondeu o amigo. "Mas você vai 'Marinar' já no primeiro turno?", devolveu. "Não, ainda sou Aécio, mas no segundo turno vou 'Marinar' com certeza", afirmou a liderança. Em encontros da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) ou da Sociedade Rural Brasileira (SRB), ambas com sede em São Paulo, diálogos como esses agora são comuns. E Marina é a escolha da maioria de seus representantes e associados no segundo turno basicamente pela expectativa de que, com ela, o etanol em particular e os biocombustíveis em geral serão mais estimulados do que são hoje – Ascom.

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