O objetivo é
habilitar técnicos da Secretaria de Agricultura, de Meio Ambiente e da Justiça
e da Defesa da Cidadania para orientar os agricultores. Alimentar-se melhor e
diminuir os impactos ambientais são desejos de uma parcela cada vez maior da
população que busca ingerir alimentos orgânicos. Esse tipo de alimento gera
interesse não só dos consumidores, mas também dos produtores rurais, principalmente
os familiares, por ser uma alternativa de produção economicamente viável e sem
custos com adubos químicos e agrotóxicos. Estima-se que no Estado de São Paulo
existam 151 mil produtores rurais familiares. Com o objetivo de capacitar
técnicos da extensão no Estado de São Paulo para que possam orientar
agricultores em sistemas de produção orgânicos, a Agência Paulista de
Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Unidade de Pesquisa e
Desenvolvimento (UPD) de São Roque, e a Secretaria do Meio Ambiente, realizam
de 15 a 19 de abril de 2013, o 3º. Curso Capacitação em Agricultura Orgânica e
Sustentável para Técnicos da Extensão Rural. Ao todo, o curso tem duração de 40
horas, divididas entre aulas teóricas e práticas, além de visitas a
propriedades orgânicas. Esta é a segunda turma que será capacitada no ano. O
módulo básico do curso começou em 2012 e vai até o final de 2013. Cerca de 200
técnicos da Secretaria de Agricultura, de Meio Ambiente e da Justiça e da
Defesa da Cidadania através do Instituto de Terras do Estado de São Paulo
(ITESP) devem estar capacitados para orientar os agricultores. De acordo com o
pesquisador da APTA, Sebastião Wilson Tivelli, a expectativa é que o módulo
dois comece no segundo semestre de 2013. “Ao final do curso, os participantes
informam quais são as culturas ou criações de animais para a quais têm ou terão
demanda de capacitação para a produção orgânica. O segundo módulo vai tratar de
tópicos específicos para cada região do Estado de São Paulo”, explica Tivelli.
O curso faz parte de programa de incentivo ao mercado orgânico desenvolvido
pelas secretarias de Agricultura e Abastecimento e de Meio Ambiente, chamado
“Programa São Paulo Orgânico”. Os participantes do curso passam por um processo
de sensibilização, com o depoimento de um produtor orgânico de frutas e
hortaliças. Em seguida, os técnicos são despertados para a importância da
biodiversidade nos sistemas agrícolas do ponto de vista agroecológico e para o
papel dos micro-organismos no solo, como os fungos, bactérias, actinomicetos,
leveduras, microinsetos, entre outros. Segundo Tivelli, a sensibilização dos
profissionais é importante porque muitos não aprenderam sobre agroecologia na
graduação. A Legislação Federal da Produção Orgânica Vegetal e o manejo do solo
do ponto de vista da agroecologia também são apresentados aos participantes, no
segundo dia de curso. No terceiro dia do evento, a Legislação Federal volta a
ser tratada, mas desta vez focada na produção animal. “Em todos os dias do
curso procuramos mesclar um pouco de teoria com a prática, no preparo de
biofertilizantes, e compostagem, e na visita aos experimentos da UPD de São
Roque”, afirma TIvelli. Nos dois últimos dias será feita uma visita a
propriedades orgânicas de frutas, hortaliças e em fazenda de leite e derivados,
para demonstrar como os conhecimentos teóricos são aplicados na prática. A
Unidade de Pesquisa da APTA foi escolhida para ministrar o curso por ser
referência nos estudos com orgânico no Estado de São Paulo. Desde 1994, a UPD
da APTA em São Roque realiza pesquisas com orgânicos, principalmente com
hortaliças. Entre os resultados recentes estão o desenvolvimento de uma
cultivar de cebola, o consórcio de hortaliças com adubos verdes e a seleção de
micro-organismos capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e disponibilizá-los
para as culturas. “Além disso, transferimos esses conhecimentos e tecnologias
aos agricultores através de experimentos locais, um papel primordial desempenhado
pela APTA”, diz Tivelli. A finalidade do consórcio entre as hortaliças com
outras plantas é melhorar o solo e a biodiversidade do local. O método permite
o cultivo simultâneo de duas ou mais culturas em uma mesma área, sem que o
agricultor deixe de obter renda. O consórcio melhora o solo e aumenta a
biodiversidade da espécie no local. Dependendo das espécies selecionadas, é
possível ter a fixação de nitrogênio atmosférico para as plantas, o controle de
doenças e a produção de habitat para o desenvolvimento de inimigos naturais de
pragas agrícolas. “O consórcio aumenta ainda a área fotossintética no sistema
de cultivo, mantém um sistema radicular denso e ativo no solo e proporciona o
aporte de matéria orgânica para alimentação dos micro-organismos”, explica o
pesquisador da APTA. Segundo Tivelli, há várias bactérias do solo que fixam o
nitrogênio atmosférico e o disponibilizam naturalmente às culturas por meio de
um processo de simbiose com as plantas. “O trabalho da pesquisa é identificar
quais bactérias potencializam essa simbiose com cada uma das culturas de
interesse econômico, como foi descoberto para a soja e para o milho”,
exemplifica. Sem a presença dessas bactérias, as plantas não conseguem aproveitar
o índice de 78% de nitrogênio presente no ar e que é a base para a produção de
proteínas. Bokashi - No primeiro dia do curso, em 15 de abril, o pesquisador da
APTA, Issao Ishimura, vai ministrar aula prática sobre o biofertilizante
bokashi. A APTA, por meio de seus trabalhos de pesquisa, conseguiu reduzir em
até 40% os custos para a produção do composto utilizado como biofertilizante
para cultivo de orgânicos. Originalmente, a tonelada do biofortificante japonês
custava em média R$ 810,00. Com a substituição de alguns componentes, a
pesquisa paulista conseguiu desenvolver um bokashi mais de 40% mais barato, ao
custo de R$ 460,00 a tonelada. “O farelo de soja, por ser utilizado como
matéria-prima para fabricação de ração animal, é inviável para o preparo do
adubo, então, o substituímos por farelo de mamona, abundante na região de São
Roque e em todo mercado agropecuário do Brasil”, afirma Ishimura. Outra mudança
foi em relação à farinha de peixe industrializada, que custa em media R$ 2,20 o
quilo, por sobras da limpeza de peixes frescos das peixarias, que são
distribuídas a custo zero. O farelo de arroz – fonte de amido – foi trocado por
resíduos da indústria de fécula e fritas de batata, que também não custa nada.
De acordo com o pesquisador da APTA, a composição e a dosagem aplicada variam
conforme o estado do solo – degradado ou não – os níveis de nutrientes
existentes e a espécie que será cultivada. Foi por meio da pesquisa paulista
também que os produtores de tomate orgânico passaram a produzir mais. Quando os
pioneiros na produção orgânica utilizavam no cultivo de tomate apenas compostos
simples, preparados com esterco animal conseguiam produzir pouco, apenas 0,5 kg
de tomate por pé. Na agricultura tradicional é possível produzir em média oito
quilos. Atualmente, recomenda-se utilizar o bokashi em conjunto com o composto
orgânico comum à base de esterco animal curtido com material celulósico e
capim, usado como condicionador do solo, o que melhora as condições físicas e
biológicas. “Na região de São Roque, na cidade de Ibiúna, há um grande produtor
que consegue produzir até três quilos por pé, ou seja, seis vezes mais. Quando
o agricultor é pequeno e familiar, pode chegar a dobrar a produção”, afirma
Ishimura. O bokashi, produzido a partir de ingredientes do beneficiamento de
matérias-primas fermentados por micro-organismos benéficos, evita o ataque de
doenças fúngicas ao tomateiro e outras espécies suscetíveis a doenças. “Isso
acontece porque a quitina presente nas penas de aves e nos frutos do mar, como
casca de siri, caranguejo e camarão, induz à diminuição de micro-organismos
patógenos”, explica Ishimura. O biofertilizante pode ser utilizado no plantio
de hortaliças, como cebola, batata, alcachofra e louro. Se não fosse a utilização
para esse fim, os resíduos que compõem o produto iriam para aterros sanitários.
“O bokashi aplicado em solo nutricionalmente desequilibrado e degradado pelo
uso excessivo de insumos químicos permite sua recuperação por meio da melhoria
das propriedades químicas, físicas e principalmente biológicas, em equilíbrio
com a natureza, de acordo, com enfoque agroecológico”, explica o pesquisador da
APTA. Segundo Ishimura, seu preparo depende somente de material originado de
recursos naturais renováveis sendo, portanto, uma tecnologia ecologicamente
correta. Ainda de acordo com Ishimura, os resíduos sólidos produzidos na região
são reaproveitados na produção de alimentos dos próprios municípios, gerando
riqueza. “Pode-se dizer que este reaproveitamento dos resíduos na região é
muito importante na sustentabilidade do agricultor, além de aumentar a garantia
da sua segurança alimentar, o que traz um enorme benefício para a comunidade”,
afirma. Compostos orgânicos - Na quarta-feira, 17, o técnico de apoio à
pesquisa da APTA, Celso dos Santos, vai ensinar os participantes do curso a
maneira de utilizar os compostos orgânicos – importantes para o sistema de
cultivo, por auxiliarem no fornecimento de nutrientes essenciais para o
desenvolvimento das plantas. “A maioria dos materiais necessários para a compostagem
normalmente é encontrada na própria unidade produtiva. O produto final, formado
por sais minerais e húmus, visa melhorar condições físicas, químicas e
biológicas do solo, revitalizando-o e promovendo o desenvolvimento da planta e,
consequentemente, melhorando a qualidade do produto e o meio ambiente”, explica
dos Santos. Entre os materiais que podem ser utilizados estão: resíduos
vegetais de qualquer natureza, como palhas, galhos, folhas, sementes, cascas e
sabugos, resíduos agroindustriais e de animais. Os produtores também podem
utilizar enriquecedores como calcários, melaços, farelos, carvão, rocha moída e
terra oriunda de tratos culturais. Carboidratos energéticos, inoculantes
alternativos, estercos, farelos, leite, soro de leite, compostos biofertilizantes
prontos, inoculantes comerciais e terras oriundas de tratos culturais, também
podem ser utilizados na compostagem. Durante o curso, também serão ministradas
palestras de técnicos da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI),
da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), da Faculdade Cantareira e dos Produtos
Yamaguishi. Os participantes visitarão o Sítio Catavento, em Indaiatuba, e a
Fazenda Nata da Serra, em Serra Negra, nos dias 18 e 19 de abril, respectivamente.
Orgânicos no Brasil. O Brasil está em quinto lugar no ranking dos países que
mais produzem alimentos orgânicos, de acordo com dados de 2004. O País foi
responsável por US$ 100 milhões dos US$ 26,5 bilhões movimentados mundialmente,
ocupando o 34º lugar entre os exportadores dos produtos. Os Estados de São
Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo produzem 70% dos
orgânicos cultivados no País. Atualmente, segundo o pesquisador da APTA,
Sebastião Wilson Tivelli, a procura de alimentos orgânicos é maior do que a
oferta. Para incentivar ainda mais o consumo e também o cultivo desses
alimentos o governo do Estado lançou, em março de 2013, o “Programa São Paulo
Orgânico”. O Projeto oferece os cursos de capacitação e ainda disponibiliza
linha de crédito aos produtores, por meio do Fundo de Expansão do Agronegócio
Paulista (FEAP). Em âmbito federal, há o projeto de tornar a Copa do Mundo de
Futebol no Brasil em orgânica, com o abastecimento da rede hoteleira com os
produtos. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo e a de Meio
Ambiente têm um Grupo de Trabalho (GT) sobre o tema. – Ascom – Fernanda Domiciano
Serviço
Curso
“Capacitação: Agricultura Orgânica para Técnicos da Extensão Rural”
Data:
15 a 19 de abril de 2013
Local:
UPD de São Roque da APTA
Endereço:
Av. Três de Maio, 900 Jd. Maria Trindade - São Roque/SP
Mais
informações: (11) 4784-3443 ou celso@apta.sp.gov.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário